FESTA DE
SENHORA SANTANA – 2014
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Foto: Pascom/Diocese de Serrinha |
Irmãos e Irmãs, eu estava
esperando a festa de Senhora Santana deste ano com muita ansiedade, querendo
apresentar à nossa Padroeira o que me preocupa e até me angustia, a respeito de
nossa Diocese e de nossa cidade de Serrinha, seja a nível espiritual, seja a
nível social.
No que diz respeito à nossa
Igreja, quero destacar o Sínodo Diocesano, a situação vocacional e a reforma da
catedral.
O Sínodo Diocesano, como
consequência da Visita Pastoral, convocou a Diocese toda a uma reflexão
profunda sobre a Nova Evangelização, para entender e propor o que a Igreja
necessita em nossos dias para enfrentar a evidente situação do abandono da fé,
do sempre mais frágil fermento evangélico nas relações humanas, da dificuldade
crescente de penetrar com a mensagem evangélica nesse mundo secularizado e
indiferente a uma cultura religiosa esclarecida e profunda e aos critérios de
moralidade que a Igreja apresenta.
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Foto: Pascom/Diocese de Serrinha |
Sim, queridos irmãos e irmãs,
também em nossa Igreja Particular, que na sua grande maioria se define
católica, cada vez mais os fiéis se colocam à margem de Deus e da Igreja. Os
primeiros resultados da estatística efetuada nas Paróquias devem deixar
inquieto o nosso coração e estimular a nossa paixão pela Igreja, amando-a e
servindo-a como Cristo a amou e a serviu: este amor e este serviço tornar-se-ão
missão, evangelização.
Não tem como ficar parados no
comodismo ou na ilusória convicção de que a maioria é católica e está conosco,
porque na verdade não nos conhece e não a conhecemos; isso significa que estas
pessoas não conhecem a Jesus Cristo, tornando-se alvos fáceis dos mercantes da
religião e dos produtos imorais, apresentados como caminhos de emancipação e
libertação.
Cito, como exemplo, a situação do
nosso povo à respeito dos Sacramentos da iniciação cristã, que contempla mais
do 50% sem a recepção completa dos três sacramentos. Outro exemplo é à respeito
do sacramento do Matrimônio e dos problemas anexos. Os casados na Igreja são
bem menos do que os conviventes; os problemas relativos ao matrimônio, que se
alastram sempre mais entre nós, tais como a convivência, o divórcio ou a
separação, o aborto, as uniões homo-afetivas, representam uma derrota da
dignidade humana, mesmo que sejam amparadas pelas leis civis, mas estas não
bastam para garantir comportamentos virtuosos. As leis são feitas para garantir
a ordem, mas, como nos lembra São Paulo “o homem é justificado não pelas leis,
mas só pela fé em Cristo” (Gl 2,16). O homem é justo, é virtuoso quando acolhe
Cristo e a sua Palavra.
Meus irmãos, minhas irmãs, todos
devemos desejar que os matrimônios durem para sempre numa relação de mútuo
amor, que não haja mais abortos, porque um matrimônio que dura para sempre é um
valor maior do que um laço quebrado; uma criança nascida é um valor maior do
que uma abortada; um compromisso de amor para sempre é um valor maior do que um
amor inconstante e variável, dependente do humor do dia. Não há desculpas
sustentáveis para aceitar o contrário, pelo menos para nós que temos fé.
O nosso Sínodo Diocesano
enfrentará estes e tantos outros problemas e, à luz da Palavra de Deus e da
Igreja, oferecerá luzes e estímulos para quem desejar viver sua vida cristã de
forma virtuosa e madura.
Mais uma vez, portanto, lanço o
meu apelo a todos a assumirem o Sínodo Diocesano como prioridade absoluta em
nossa caminhada eclesial, lembrando que este é tempo de graça, tempo da
passagem do Senhor em nosso meio, tempo para contribuir com a oração, com
propostas e ideias para fazer acontecer a Nova Evangelização.
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Foto: Pascom/Diocese de Serrinha |
Uma segunda, grande preocupação é
a situação vocacional na Diocese, seja das vocações diocesanas, como também das
vocações religiosas. Há uma escassez injustificada, porque sabemos que Deus não
deixa faltar os pastores para seu povo. O “deserto espiritual” do nosso tempo,
denunciado pelo Papa emérito Bento XVI, é o maior impedimento para o
desabrochar das vocações, mas também falta o nosso interesse , o nosso
testemunho, a nossa oração. Na atividade vocacional “conjugam-se a obra da
graça e o esforço humano” (Doc. 93 CNBB, n.11).
“Evangelização e vocação são dois
elementos indissociáveis. O critério que mede a autenticidade de uma boa
evangelização é a sua capacidade de suscitar vocações, de amadurecer projetos
de vida evangélica e de envolver integralmente o evangelizado até torná-lo
discípulo, testemunha e apóstolo” (Pe. P. Chavez). A Nova Evangelização exige
pastores e animadores vocacionais que sejam verdadeiros guias espirituais para
os jovens.
Mas isso não basta. Precisamos de
famílias evangelizadoras que levem seus filhos a crescer na fé, pela qual se
abram ao chamado de Deus. “A Nova Evangelização deve implicar um novo
protagonismo de cada um dos batizados” (E.G. 120), porque “onde há vida,
fervor, paixão de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas” (E.G.
107).
Como terceiro ponto, trato da
reforma de nossa Catedral. Tenho certeza de que esta obra está em consonância
com os sentimentos, os desejos e o fervor que levaram os nossos antepassados a
construir este grande templo, elegante nas suas formas arquitetônicas, idôneo
para a celebração dos santos mistérios, respondendo às exigências espirituais e
transcendentes dos fiéis. Inaugurada há cerca de 40 anos atrás, esta igreja,
elevada à dignidade de Catedral em 2005, é o legado de fé transmitido por eles,
como maior patrimônio para sua descendência.
É para fazer memória e conservar
este legado da fé que decidimos por mãos à obra: queira Deus que todos pensem e
participem desta obra como testemunho da fé recebida e, ainda hoje, proclamada
e vivida. Será o nosso legado para as novas gerações que, afetadas pela
mentalidade corrente do relativismo e da autossuficiência, encontram mais
dificuldades a dar espaço ao Deus da vida.
As pessoas mais idosas poderiam
contar histórias bonitas, relativas à construção deste templo e ao caminho de
fé que dele se irradiou e que nós recebemos como um dom precioso. Dentro dos
meus limitados conhecimentos, quero lembrar o Mons. Carlos Olímpio Ribeiro que
deixou o marco histórico religioso do fogaréu,
além de ter lançado a primeira pedra desta igreja; o Mons. Demócrito Mendes de
Barros que continuou e finalizou a construção da Igreja e deixou para os
Serrinhenses um grande legado cultural, chegando a instituir uma escola no
salão paroquial; enfim, para enaltecer o grande número de leigos que amaram
outrora a Igreja e os que a amam hoje, recordo a saudosa Dona Pombinha, recém
falecida, grande educadora na fé e testemunha luminosa em nossa Igreja.
E agora, lembrando que o papel da
Igreja é ser sinal da solicitude salvífica de Deus pela humanidade, passo a
discursar, como costumo fazer na festa da Padroeira, sobre a situação
político-social em nossa cidade. É dever da Igreja, conforme sua Doutrina
social, entrar neste aspecto porque os cristãos são cidadãos com os mesmos direitos
e deveres dos outros e, portanto, interessados pela cidade, mas também porque
nós cristãos podemos oferecer um suplemento de luz aos problemas humanos,
políticos e sociais, por meio da Palavra de Deus. Comunidade religiosa e
comunidade civil devem se encontrar, devem dialogar sem medo, mantendo-se cada
uma no seu âmbito, mas buscando juntas, com honestidade e com coragem, o que
for melhor para o povo. O engano e a esperteza não prestam neste diálogo.
Nós estamos longe de conhecer
detalhadamente as situações de degrado moral, social, institucional e,
portanto, é difícil oferecer orientações e respostas. O que se vê é o
sofrimento do povo, é a ausência de serviços, é a falta de planejamento a
vários níveis, é a corrida ao poder e ao sucesso, são as promessas não
cumpridas, são as artimanhas utilizadas para driblar leis e convênios.
Aqui é necessário citar alguns
dos tantos problemas que incomodam as pessoas mais carentes, deixando-as
desamparadas e humilhadas em suas necessidades.
Refiro-me ao problema da saúde,
lembrando que com a saúde não se brinca. E aqui se costuma brincar com a saúde
de quem não tem planos nem recursos. É uma vergonha ter que recorrer a
políticos para um serviço que é devido e que deveria ser oferecido com a maior
presteza e com a competência necessária. Onde está o programa “mais saúde: direito de todos”, tão
bonito no papel e tão falho na prática?
A “S” de saúde deve ser letra
maiúscula, como os nomes próprios, para dizer a importância e a dignidade da
palavra. Em nossas cidades, mesmo com algumas diferenças positivas, a saúde nem
letra minúscula tem!
E a saúde da política em que
situação se encontra? Com certeza, alguns irão criticar esta minha intervenção,
porque estamos no ano eleitoral; mas recordo que disso falei também fora do
tempo de eleições, porque é meu direito e meu dever sendo pastor deste povo.
Pois bem, todo mundo sabe que é
difícil de se encontrar a política verdadeira, enquanto que a politicagem é
superabundante: a primeira trabalha para o bem do povo em espírito de serviço;
a segunda trabalha para seus interesses.
A este propósito, transmito a
palavra do Papa Francisco: “Acho que é difícil permanecer honesto na política.
Há pessoas que gostariam de fazer as coisas de modo claro, mas depois, é como
se fossem engolidas por um fenômeno endêmico, transversal. É preciso reabilitar
a política, porque se desvalorizou por causa da corrupção e do suborno”. Pois
bem: onde estão os católicos eleitos? Porque não se manifestam com coragem, não
renunciando aos ideais cristãos, a custo de perder sua cadeira?
Outra palavra com letra maiúscula
é Segurança: outro campo fora de
controle e trata-se de um campo minado, ao ver os números das mortes violentas
em nossas cidades. Há poucos dias, o Professor Luiz Mott, titular de
antropologia na UFBA escrevia no jornal A
Tarde: ”Temos medo, sim, por isso vivemos todos presos dentro de casa, com
muros altos, cerca elétricas e grades pontiagudas. Nos últimos anos os cidadãos
de bem tiveram de entregar suas armas ao governo, enquanto os ladrões andam
soltos, matando 137 cidadãos por dia! Os culpados são os donos do poder que não
zelam pela nossa integridade física, que usam a polícia e exército para atirar
contra manifestantes, mas não garantem a segurança pública”.
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Foto: Pascom/ Diocese de Serrinha |
Por quanto tempo ainda o povo deverá suportar
este vexame? E ao povo que tem nas mãos a arma do voto eu pergunto: não tem
olhos para ver a situação? Onde estão as manifestações a favor dos vossos
direitos? O bom funcionamento dos
poderes públicos depende da capacidade do povo de escolher seus representantes,
de exigir dos Órgãos públicos, de
interpelar o Poder Judiciário para obter o que é um direito, o que a
Constituição garante a todos para uma vida digna. Chega de contentar-se com as
migalhas e o assistencialismo.
Mas denunciar não basta. Neste
momento de grande crise de valores, temos que admitir que esta crise é o fruto
de escolhas egoístas, de uma educação
errada nas famílias e nas escolas (.....) e ter, ao mesmo tempo, a coragem
de mudar, de antepor os interesses gerais aos particulares, de entrar nos
ambientes do mundo com a força da fé, de forma que se possa transformá-los,
revestindo-os com a cultura do respeito, com a cultura de uma convivência de
paz, de amor, de fraternidade.
Esta cultura encontra sua origem
no Amor de Deus por nós: este amor não é uma fábula, porque em Cristo se
manifestou concretamente e com Ele é possível construir uma cidade em que a
bondade e o amor sejam a marca maior.
Será que os nossos jovens são
capazes de uma contra-tendência, assumindo uma postura ética que valorize a
solidariedade, a compreensão, o serviço? Uma postura que se instale na
consciência e esteja sempre pronta a afastar a injustiça, a não aceitar a
corrupção, praga que invade o mundo e atinge as pessoas mais simples.
Dizia o Papa Francisco há pouco
tempo: “A comunidade cristã é o lugar onde o empresário, o político, o
profissional, o sindicalista recebe a linfa para alimentar seu compromisso e
confrontar-se com os irmãos”. A nossa pastoral, para ser incisiva, é chamada a
confrontar-se com estes problemas sociais que produzem mal estar e desânimo.
Queridos irmãos e irmãs, uma
possibilidade de saída desta situação negativa existe: ela está dentro de nós,
porque Deus colocou em nossos corações potencialidades que têm a força para
reagir; o homem pode construir algo de inédito e de maior do que a própria
crise.
Não me resta outra coisa a dizer,
se não uma súplica à Nossa Padroeira. Senhora Santana, como soubestes preparar
vossa filha Maria a acolher o Filho de Deus, ajudai-nos a acolher Jesus:
caminho, verdade e vida. Único caminho, única verdade, única vida digna de ser
vivida. Assim, com a vossa proteção Senhora Santana e com a presença de Jesus
Cristo em nós, será mais fácil fazer um bom caminho sinodal e tornarmos presença
significativa em nossa cidade, despejando um grande amor pelos homens, pela
cidade, pelo mundo. Amém.
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Foto: Pascom/Diocese de Serrinha |