Permanecer em Jesus
Jesus,
a videira verdadeira (15,1-17), é uma perícope dividida em
dois blocos: a primeira parte é uma alegoria e a segunda parte uma explicação.
Para compreender melhor, os caps. 15–17 parecem estar em desarmonia como se
fossem colocados no Evangelho mais tarde, pois o cap. 14,31 termina com um
convite de Jesus para sair e ir para outro local, que pode ser compreendido no
cap. 8,1ss. Mas é um fragmento próprio de João, com característica própria do
evangelista. Estes capítulos, na verdade, é mais um discurso de despedida.
O texto da Videira pode ser dividido segundo Fabris
e Maggioni da seguinte forma: “a alegoria da vide e os ramos (vv. 1-6) e um
discurso explicativo (vv. 7-17)”.[1]
Jesus começa a sua pregação dizendo que ele é a “videira verdadeira”, mas com a
expressão ego eimi: eu sou. Outras afirmações análogas desse tipo já foram
feitas: eu sou o pão, eu sou o caminho, eu sou a luz. No caso da videira, ele
dá ênfase na verdade: eu sou a videira verdadeira, diferente de outros que
surjam, ou mesmo diferenciando a antiga aliança com a Nova Aliança em seu nome.
Também é muito provável que “Jo pretende opor-se às propostas do sincretismo
helenista, que exerce fascínio sobre os seus contemporâneos”.[2]
É do conhecimento de todos que o tema da videira já
era apresentado no AT com determinada importância por Is 5,1-7. Neste contexto,
a vinha, logicamente, é Israel, a esposa do Senhor. Porém, a esposa trai o seu
amado, e torna-se seca e improdutiva. Da sua vinha, Deus disse: “arrancarei a
sua cerca para que sirva de pasto”(Is 5,5). Diferente do antigo Israel, em
Jesus é possível ter uma vinha verdadeira e que produza frutos bons e
agradáveis.
Se Jesus é a videira, a Igreja – povo de Deus – são
os ramos. E para que a Igreja dê bons frutos ela deve permanecer unida, íntima,
em plena comunhão com o tronco. Caso contrário, o Pai que é o zelador (v. 2.)
cortará e jogará fora aqueles ramos que não servem. Neste sentido, dar frutos é
fazer a vontade de Jesus e do Pai, não dar frutos significa uma vida toda no
pecado, fora da comunidade eclesial. Para o evangelista, a permanência é
recíproca, contudo, da parte de Jesus esta permanência é segura e honesta, já da
parte dos membros nem sempre. “Critério do juízo são os frutos: o ramo
frutífero é podado, mas o ramo estéril é queimado. Mais profundamente, o
critério do juízo é o permanecer em Cristo, isto é, a mais absoluta dependência”.[3] O
v. 10 vai dizer que permanecer em Jesus é permanecer no seu amor e guardar os
seus mandamentos. Este ato de permanecer se dá da seguinte forma: Cristo é o
mediador entre o Pai e os discípulos, ou seja, aquele que proporciona a
comunhão entre a eclesia e a Trindade. Logo, “estar unido a Cristo como ramo à
videira significa estar inserido no seu amor, que tem sua vertente na comunhão
do Pai e do Filho (v.9)”.[4]
O amor é a maior expressão de unidade e de comunhão entre
a própria Igreja e desta com o seu Mestre. De fato, a comunidade dos crentes,
dos discípulos é o lugar do amor. A Igreja, neste sentido, sabe que “somente a
entrega aos outros pode dar a certeza de ser objeto do amor de Deus. Este é o
critério que discerne a autenticidade da experiência interior”.[5]
Concluindo, é possível dizer que: permanecer unido à
videira verdadeira e dar bons frutos é fazer a vontade do Pai e do Filho pela
força do Espírito Santo praticando e expressando os mandamentos de forma
amorosa na comunidade. Cristo quer uma Igreja em comunhão, em harmonia uns com
os outros, em plena alegria (v. 11), e os mandamentos serão a garantia dessa
realização.
[1] FRABIS; MAGGIONI, 2006, p. 428.
[2] Ibidem, p. 429.
[3]
Ibidem, p. 431.
[4]
Ibidem, p. 433.
[5]
MATEOS; BARRETO, 1999, p. 651.
Referências:
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. Português. São Paulo: Paulus, 2004.
FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os Evangelhos II. ed. 4. São Paulo: Edições Loyolas, 2006.
INTERLINEAR, grego-português, Novo Testamento. Barueri: Sociedade bíblica do Brasil, 2004.
MATEOS, Juan; BARRETO, Juan. O Evangelho de São João: análise linguística e comentário exegético. ed. 2. São Paulo: Paulus, 1999.
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