quinta-feira, 12 de junho de 2014

Permanecer em Jesus - Tronco que dá vida aos Ramos: Igreja.

Permanecer em Jesus


Jesus, a videira verdadeira (15,1-17), é uma perícope dividida em dois blocos: a primeira parte é uma alegoria e a segunda parte uma explicação. Para compreender melhor, os caps. 15–17 parecem estar em desarmonia como se fossem colocados no Evangelho mais tarde, pois o cap. 14,31 termina com um convite de Jesus para sair e ir para outro local, que pode ser compreendido no cap. 8,1ss. Mas é um fragmento próprio de João, com característica própria do evangelista. Estes capítulos, na verdade, é mais um discurso de despedida.
O texto da Videira pode ser dividido segundo Fabris e Maggioni da seguinte forma: “a alegoria da vide e os ramos (vv. 1-6) e um discurso explicativo (vv. 7-17)”.[1] Jesus começa a sua pregação dizendo que ele é a “videira verdadeira”, mas com a expressão ego eimi: eu sou. Outras afirmações análogas desse tipo já foram feitas: eu sou o pão, eu sou o caminho, eu sou a luz. No caso da videira, ele dá ênfase na verdade: eu sou a videira verdadeira, diferente de outros que surjam, ou mesmo diferenciando a antiga aliança com a Nova Aliança em seu nome. Também é muito provável que “Jo pretende opor-se às propostas do sincretismo helenista, que exerce fascínio sobre os seus contemporâneos”.[2]
É do conhecimento de todos que o tema da videira já era apresentado no AT com determinada importância por Is 5,1-7. Neste contexto, a vinha, logicamente, é Israel, a esposa do Senhor. Porém, a esposa trai o seu amado, e torna-se seca e improdutiva. Da sua vinha, Deus disse: “arrancarei a sua cerca para que sirva de pasto”(Is 5,5). Diferente do antigo Israel, em Jesus é possível ter uma vinha verdadeira e que produza frutos bons e agradáveis.
Se Jesus é a videira, a Igreja – povo de Deus – são os ramos. E para que a Igreja dê bons frutos ela deve permanecer unida, íntima, em plena comunhão com o tronco. Caso contrário, o Pai que é o zelador (v. 2.) cortará e jogará fora aqueles ramos que não servem. Neste sentido, dar frutos é fazer a vontade de Jesus e do Pai, não dar frutos significa uma vida toda no pecado, fora da comunidade eclesial. Para o evangelista, a permanência é recíproca, contudo, da parte de Jesus esta permanência é segura e honesta, já da parte dos membros nem sempre.  “Critério do juízo são os frutos: o ramo frutífero é podado, mas o ramo estéril é queimado. Mais profundamente, o critério do juízo é o permanecer em Cristo, isto é, a mais absoluta dependência”.[3] O v. 10 vai dizer que permanecer em Jesus é permanecer no seu amor e guardar os seus mandamentos. Este ato de permanecer se dá da seguinte forma: Cristo é o mediador entre o Pai e os discípulos, ou seja, aquele que proporciona a comunhão entre a eclesia e a Trindade. Logo, “estar unido a Cristo como ramo à videira significa estar inserido no seu amor, que tem sua vertente na comunhão do Pai e do Filho (v.9)”.[4]
O amor é a maior expressão de unidade e de comunhão entre a própria Igreja e desta com o seu Mestre. De fato, a comunidade dos crentes, dos discípulos é o lugar do amor. A Igreja, neste sentido, sabe que “somente a entrega aos outros pode dar a certeza de ser objeto do amor de Deus. Este é o critério que discerne a autenticidade da experiência interior”.[5]
Concluindo, é possível dizer que: permanecer unido à videira verdadeira e dar bons frutos é fazer a vontade do Pai e do Filho pela força do Espírito Santo praticando e expressando os mandamentos de forma amorosa na comunidade. Cristo quer uma Igreja em comunhão, em harmonia uns com os outros, em plena alegria (v. 11), e os mandamentos serão a garantia dessa realização.






[1] FRABIS; MAGGIONI, 2006, p. 428.
[2] Ibidem, p. 429.
[3] Ibidem, p. 431.
[4] Ibidem, p. 433.
[5] MATEOS; BARRETO, 1999, p. 651.


Referências:

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. Português. São Paulo: Paulus, 2004.
FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os Evangelhos II. ed. 4. São Paulo: Edições Loyolas, 2006.
INTERLINEAR, grego-português, Novo Testamento. Barueri: Sociedade bíblica do Brasil, 2004.
MATEOS, Juan; BARRETO, Juan. O Evangelho de São João: análise linguística e comentário exegético. ed. 2. São Paulo: Paulus, 1999.

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