quinta-feira, 12 de junho de 2014

Martírio de Estevão (At 7, 51-60)

Martírio de Estevão



O martírio de Estevão se deu, como foi visto, por causa do seu testemunho de fé em Jesus Cristo. A sua morte é, na verdade, “o ponto máximo da repressão judaica”[1] contra os apóstolos. Esta perícope (Lc 7,55-8,1a) revela uma profunda espiritualidade daquele que é o primeiro mártir da história do cristianismo. Conforme At 7,55, “ele estava cheio do Espírito Santo”, ou seja, o Espírito Santo estava presente com grande poder, a ponto de possibilitar a Estevão “um momento gostosíssimo da glória celestial.”[2] Ao ver a “glória de Deus”, Estevão contempla aquilo que os israelitas viam no deserto, quando Deus mostrava sua glória na libertação do Egito. Neste sentido, o mesmo Deus que estava com o povo judeu, agora está com a Igreja – povo de Deus – nascente.
Estevão começa o seu discurso falando “do Deus da glória (7,22), e termina o seu discurso tendo uma visão dessa glória, pertencente ao Filho do Homem”.[3] A postura de Cristo ao lado do Pai, na hora do martírio, reflete uma postura de quem está na qualidade de testemunha do ato cruento.
Estevão faz questão de falar que vê o “céu aberto e o Filho do Homem à direita de Deus.” Isto revela que Cristo está reinando e que o Pai juntamente com o Filho expira o Espírito Santo para zelar e governar a sua Igreja. O sangue do primeiro mártir é fonte de vida nova para a Igreja nascente. Contemplado com tão bela visão, ele faz questão de testemunhá-la, o que provocou a ira dos judeus. A precipitação violenta do povo contra Estevão, mostra mais uma vez a manipulação das autoridades judaicas contra a obra divina. A maneira como é morto o primeiro mártir é idêntica à de Cristo. Aqueles algozes, impulsionados pela inveja, tornaram-se selvagens, bem diferentes de um filho de Deus. A maldade caiu sobre o amor. Não houve julgamento justo e leal; não houve decisão judicial “formalmente proferida”.[4]
Saulo estava por perto (7,58), vendo tudo e aprovando, pois ainda perseguia os cristãos, e recebe e suas mãos as vestes de Estevão, bem como os seus objetos de valores pessoais. Sem dúvida, Paulo, no início de sua caminhada, foi culpado de muitos crimes contra os cristãos (At 9,13-14). O texto diz que Saulo era jovem, mas essa expressão “pode referir-se a um homem até à idade de quarenta e cinco anos”.[5]
A invocação de Estevão para Deus receber o seu espírito, está em conformidade com aquela feita por Cristo na cruz. Uma bela expressão de confiança diante da própria visão que tivera. O céu é o prêmio que a coroa do martírio possibilita, como o próprio nome de Estevão, em “grego Stephanos, que significa coroa.”[6] E antes de morrer, pede perdão para os seus algozes, pois são ignorantes, não sabem o que estão fazendo. O perdão é um dom manifestado por Cristo, e Estevão agora coloca em prática. O amor supera a rebeldia.




[1] FABRIS, 1991, p. 145.
[2] CHAMPLIN, 2002, p. 164.
[3] Ibidem, p. 165.
[4] Ibidem, p. 165.
[5] Ibidem, p. 166.
[6] BOGAERT et al, 2013, 483.


Referências:

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. Português. São Paulo: Paulus, 2004.
BOGAERT, Pierre-Maurice, et al. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. São Paulo: Paulus; Loyola; Paulinas; Academia Cristã, 2013.
CHAMPLIN, R. Norman. Novo Testamento: versículo por versículo. v. 3: Atos, Romanos. São Paulo: Hagnos, 2002.
FABRIS, Rinaldo. Os Atos dos Apóstolos. v. 3. São Paulo: Loyola, 1991.


Nenhum comentário:

Postar um comentário