quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O chamado


O chamado


At 1,15-26 – Pedro levanta a voz numa reunião com 120 pessoas para tratar do vazio que Judas deixou no ministério apostólico. Judas era do grupo dos 12, ‘do nosso grupo’ At 1,17. Ele participava do mesmo serviço que os outros apóstolos. Qual seria o serviço que esse grupo realizava? A pregação da paixão, morte e ressurreição do Senhor!? Com Judas fora do colégio apostólico, era preciso escolher um homem dentre aqueles que viveram com os doze enquanto o Senhor caminhava na Terra. Um será escolhido para testemunhar a ressurreição de Cristo At 1,22. Dois foram apresentados v. 23: um era justo, José, chamado Barsabás, porém o Senhor escolheu Matias, que com certeza era um homem de Deus. O Senhor escolheu um dos dois que a comunidade apresentou. Portanto, é a comunidade quem apresenta o candidato para a Igreja, ou seja, o vocacionado sai da comunidade para voltar à comunidade Hb 5,1. Não existe vocacionado que caminha sozinho, que se auto escolhe para o serviço do Senhor na comunidade. Ele precisa ser acompanhado, seja pelo padre da Paróquia, seja por religiosas, seja por um casal referência da comunidade e/ou pelo coordenador da Pastoral Vocacional. Logo, o vocacionado não é um anônimo para a comunidade. Outro detalhe também é a oração. Um candidato ao ministério ordenado deve ser acompanhado pela oração da comunidade At 1,24. A oração é o alimento espiritual da vida do cristão.  A oração, acompanhada pela leitura da Palavra, possibilitará ao vocacionado um verdadeiro discernimento a respeito do seu chamado. O Senhor chama, e este chamado precisa ser confirmado tanto pelo vocacionado como pela comunidade.

domingo, 13 de outubro de 2013

DNJ: Dia Nacional da Juventude

DNJ – Dia Nacional da Juventude


Começo dizendo que não sou perito em juventude. E, aliás, é a primeira vez que me provoco a escrever algo sobre juventude. Percebo que a cultura juvenil não é unívoca, mas pluralista.[1] Hoje, não existe somente um único perfil de jovens. Existem vários grupos, muitos deles definidos pelo vestir, pelo estilo de música e ou esporte. Tem o grupo do rachão (futebol), o grupo dos skatistas, os grupos diversos que já estão cursando a faculdade e, têm também aqueles grupos que frequentam a igreja, por que não?! O jovem hoje está nas ‘ruas’, mas também no Facebook. O jovem vive hoje numa sociedade marcada pela correria, pelo que é imediato, passageiro, tudo é novo e ao mesmo tempo velho.
Existem alguns critérios que podem definir um jovem e a sociedade lhe determina uma faixa de idade. O jovem está na fase da decisão: o que fazer para ser? Antigamente o jovem aprendia a profissão com os pais, hoje tem a faculdade. Porém, não são todos os jovens que ingressam numa universidade. Outro detalhe do jovem é que ele está marcado pelo risco de consumo: este consumo vai daquele provocado pelo mercado capitalista ao consumo dos vários tipos de drogas. Alguém já dizia que jovem é presa fácil, quem chega primeiro, ganha.
O jovem de hoje não é mais influenciado pela política como o foi o jovem dos anos 60/70. O jovem vive de expectativas que o surpreenda. Vive de emoção, de prazer. Um exemplo disso são os jovens que, pela primeira vez, vão ao Grupo de Jovem da Igreja e não voltam mais, pois não encontram ali emoção, prazer de estar com outros jovens que já são de caminhada na igreja. Aliás, os Grupos de Jovens da Igreja precisam mudar suas maneiras de encontros. Precisam mudar também os membros idosos que estão há décadas nos grupos. (estou falando daquelas que não namoram, não vão numa festa, para dedicar tempo somente ao Grupo – de repente essas ‘jovens’ se veem velhas e encalhadas). Por que não se reunir nas praças, numa pizzaria, numa soverteria, ou mesmo nas casas dos membros e, claro, de maneira dinâmica?
Os jovens que já frequentam a comunidade precisam saber que são armas fundamentais para atrair outros jovens. Com eficácia, só um jovem evangeliza outro jovem! É bom que o jovem que frequenta assiduamente a igreja saiba disso. É fácil evangelizar quem está frequentando, ou seja, que muitas vezes já é evangelizado. Mas, de imediato, não pensemos que vamos evangelizar os jovens impondo-lhe compromissos! Ao contrário, o compromisso será a consequência da evangelização. Por isso, precisamos sair de nós mesmo! Ir além do comum. Falar linguagem do jovem. O DNJ é um momento propício para acontecer o primeiro anúncio àquele jovem que não vem à igreja! “Oba oba” não evangeliza ninguém. E só pra concluir este pensamento, o PADRE na comunidade é o primeiro jovem – ancião, sábio – a sair ao encontro do jovem e não aquela pessoa que expulsa o jovem da igreja.



[1] Este texto foi inspirado a partir do capítulo do Livro: CORRÊA NETO, Sebastião. Juventudes neste tempo. Juventudes e vocações hoje: caminhos e perspectivas para uma pastoral vocacional. São Paulo: Paulus, 2013.

sábado, 12 de outubro de 2013

AUTORIDADE VATICANA: A teologia da libertação não faz falta para cuidar dos pobres

TODA CASA PRECISA DE UMA FAXINA


ROMA, 26 Ago. 13 / 01:30 pm (ACI/EWTN Noticias).- O secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, o leigo Guzmán Carriquiry, afirmou que "não faz falta uma teologia da libertação" para cuidar dos pobres, basta viver o Evangelho, "o abraço da caridade, o testemunho comovido de si".
O leigo uruguaio fez esta afirmação durante um encontro convocado pelo movimento Comunhão e Libertação na cidade de Rímini, ao norte da Itália, no último dia 21 de agosto, onde também disse que a Igreja precisa "libertar" a fé de "incrustações mundanas" para torna-la novamente atrativa.
"Certamente já seus predecessores iniciaram um progressivo desmantelamento da sujeira real da cúria. João Paulo II preferia estar pelas ruas do mundo que no Vaticano. E Bento XVI disparou raios contra o carreirismo, o clericalismo, a mundanidade, a divisão, as ambições de poder e a sujeira na Igreja. Agora Francisco realiza o que seu predecessor pediu tantas vezes... e muito mais. Tudo isto faz parte da 'revolução evangélica' que marca uma profunda mudança do modo mesmo de ser Papa", afirmou.
Nesse sentido, destacou a continuidade entre Bento XVI e Francisco. Concluiu propondo que a encíclica Lumen Fidei seja lida à luz do pontificado do Papa Francisco, das "pérolas" de suas homilias cotidianas, de sua catequese e do "sair missionário" para compartilhar a luz da fé ad gentes.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A Eucaristia na Igreja - Cristo vivo entre nós

ESQUEMA DA EUCARISTIA[1]



I.                   ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA.
1.      Centralidade do tema – a celebração da missa constitui o centro de toda a vida cristã para a igreja universal. Na missa capta a presença dinâmica e irradiante do mistério de Cristo. A repetição das celebrações nada mais faz senão canalizar no tempo as “inexauríveis riquezas” de Cristo. Com isso constatamos ser verdade que temos o centro, o ápice e a fonte de onde decorrem todas as outras graças da igreja (SC 10). A eucaristia é totalizante e finalizante. Toda a vida da igreja está em estreita relação com a missa.
2.      Ponto de partida: o gesto da última ceia – é dado universalmente conhecido e aceito que a nossa eucaristia tenha o seu início e que encontre as suas linhas essenciais no gesto que Jesus fez na última ceia com os seus discípulos. Existe uma dificuldade quando queremos determinar com absoluto rigor qual foi o núcleo primitivo de onde tudo partiu. Com o passar do tempo, as várias tradições litúrgicas foram se configurando.
3.      O Cristo “de Servo a Kyrios” – Jesus se viu e leu o seu destino de profeta-messias na misteriosa figura do servo de Javé que sofre e dá a sua vida pela salvação dos irmãos. “Jesus veio para servir e dá sua vida em resgate de muitos”(Mc 10,45). O que o apóstolo Paulo e Lucas quiseram explicar na forma usada em 1Cor 11,24; Lc 22,19;  de maneira a tornar mais compreensível para as comunidades helenísticas. Quanto às palavras relativas ao cálice do “sangue derramado por vós” (Lc 22,20;1Cor 11,25) ou “por muitos” (segundo Marcos 14,24, a que Mt 26,28 acrescenta: “pela remissão dos pecados”), o sentido se torna ainda mais claro na linha do ‘servo sofredor’. Jesus antes da sua Paixão realiza a ‘ação profética’. Jesus é o cordeiro de Deus, identificado por Paulo 1Cor 5,7 e por João Batista Jo 1,16, celebrado na primeira eucaristia e, que depois por sua ordem (“Fazei isto em memória de mim” Lc 22,18), nas primeiras comunidades cristãs. Na cruz de Jesus nada tinha de litúrgico, mas na última ceia ele escolheu pessoalmente os sinais e os ritos, sob os quais queria que se perpetuasse tudo o que realizara e cumprira na sua grande ‘hora’ habilitando os apóstolos a fazer o mesmo. Com o sacramento da nova aliança no lugar da antiga já superada, Jesus instituiu o sacramento do ‘corpo doado e do sangue derramado’.  A eucaristia enquanto sacramento – presença real – só se verifica no ato que celebra ou reatualiza o sacrifício de Cristo, ou seja, torna presente o gesto do ‘servo de Javé’. O Cristo da eucaristia é o ‘servo sofredor’ que se tornou o Kyrios depois da morte e ressurreição. Cristo é o ‘servo-kyrios’ Salvador.
4.      Da liturgia da ceia judaica à cristã – a questão histórica procura saber se se tratou da ceia judaica e verificar quando Jesus a celebrou com os seus discípulos. Os pesquisadores e os historiadores buscam identificar os ritos e as orações da mesa  que estavam em uso no judaísmo contemporâneo a Jesus; se Jesus se serviu dessas orações e se foram inspirações para o gênero literário posterior. As composições cristãs não seguiram ao pé da letra os formulários judaicos.
5.      Nomes da Eucaristia – o nome mais antigo que aparece no NT é p usado por Paulo: Ceia do Senhor (1Cor 11,19) ou fração do pão (Lc 24,35). Outro termo que se encontra na Didaqué é o de (Ação de Graças e Louvor) que depois vem a se tornar o mais frequente e o mais difundido no Ocidente e no Oriente. O vocabulário leitougia, do grego, designa no começo o conjunto das cerimonias públicas ou a celebração do ofício divino; depois do século IX, serve simplesmente para indicar a missa. O nome missa prevaleceu entre nós, ao passo que eucaristia, para os fieis de hoje, mais do que uma ação sagrada a ser feita comunitariamente, lembra a presença real do corpo de Cristo fora da missa.
6.      Formação das preces eucarística nas várias liturgias – através dos documentos mais antigos se formarão o esqueleto da oração eucarística clássica: benção ou ação de graças que terá como objeto tanto o Deus criador como o Cristo redentor. Depois do relato da ceia, obedecendo ao mandato de Jesus de fazer memória explicita ou ‘celebra-se o memorial’, não só dele ou da quinta feira santa, mas de todo o seu mistério pascal de morte e ressurreição até a parusia (vinda). Assim a Igreja pode oferecer o grande sacrifício da nova aliança, que pode tomar várias denominações: desde a Oblatio munda (sacrifício puro Ml 1,11) predita por Malaquias e agora realizada em Cristo, até a oblação espiritual (oblatio rationabilis – hostiam viventem: hóstias vivas, sacrifício vivo Rm 12,1).
7.      A celebração eucarística: as grandes etapas da sua evolução histórica – na época mais primitiva, a celebração tinha caráter doméstico familiar, pela exiguidade das assembleias participantes e pela união da eucaristia com a ceia da ágape, pela falta de lugares públicos de culto próprios dos cristãos, e isto especialmente em época de perseguição. A medida que o cristianismo vai aumentando o número de seus fieis, acaba que enfrentar os novos processos de evolução, criando diversas tradições litúrgicas que formarão com o tempo as chamadas ‘famílias litúrgicas’.  É interessante saber que a primeira descrição da missa encontrada fora do NT, a de Justino, na metade do séc. II tem os seguintes elementos: leituras das ‘memórias dos apóstolos’; homilia do presidente da celebração seguida de uma oração dos fiéis, concluída com o beijo de paz; oferta e grande oração eucarística; comunhão dos presentes (enviada também aos ausentes); coleta de esmola para os pobres. A liturgia romana dispõe de poucas informações, sabe-se que foi usada a língua grega até o séc. III; obscuro é a origem do cânon romano (é citado a partir do séc. IV). A época patrística levou ao grande florescimento teológico bem conhecido (séc. IV-V), também praticamente criou o fundo eucológico romano das orações, concretizado nas três grandes coletâneas dos sacramentários, Gelasiano, Veronense e Gregoriano. A Idade Média não ousou tocar nesta estrutura essencial da missa. Limitou-se a utilizar o rico tesouro da antiguidade, salvas poucas criações. A comunhão tornara cada vez mais rara e já não era o ato normal de toda a ‘família cristã’ dos batizados reunida em torno da vida comum para participar do sacrifício da nova aliança. A eucaristia foi privada se transformado em ato de devoção e muitas vezes tinha lugar fora da celebração da missa, enfatizando a adoração da presença real. Foi neste tempo que passou a ser recebida de joelhos e diretamente na boca, por regra sob uma única espécie. Com o crescimento das novas fileiras de mendicantes, se multiplicou o número de sacerdotes, estes nos seus conventos começaram a celebrar a missa por devoção. O povo foi se tornando cada vez mais espectador na missa. O Concílio de Trento se limitou a defender, repetir, reforçar os dados incluídos na doutrina e na praxe católica. Com o concílio foi acentuado a distância entre clero e povo. Com o Vaticano II reemergiu a noção de mistério, mediante a qual o evento histórico-salvífico de Cristo pode ser reatualizado sob o invólucro dos sinais sacramentais.


II.                A celebração da missa: dinâmica e significados
1.      A comunidade que se reúne (assembleia e rito de entrada) – A Igreja é a comunidade dos que se reúnem dentro da grande convocação da fé completada pela incorporação batismal em Cristo. Para fazer a eucaristia é necessária a igreja e é preciso fazer igreja junto com os irmãos sob a presidência de um sacerdote-pastor que representa Cristo no meio dos seus. A missa não é apenas um preceito dominical, mas é sempre adesão nova e livre na fé à convocação eclesial e eucarística. Acima da obrigação jurídica e da rotina, o cristão esclarecido sabe que a missa é festa na páscoa semanal e quer fazer festa junto com os irmãos. Só se pode fazer eucaristia onde existe uma igreja legitimamente reunida e vice-versa.
2.      Comunidade de escuta (liturgia da palavra) – no início, depois das intervenções do sacerdote, dos cantores, do povo, agora a liturgia da Palavra constitui o primeiro grande polo que forma o arcabouço da missa junto com outro polo essencial: a liturgia sacrifical (do ofertório em diante). A assembleia senta, o silencio religioso de todos, a palavra do Senhor é proclamada. A missa mais antiga começava com esse momento. No momento da liturgia da Palavra é importante que a proclamação deva ser perceptível por todos, que o leitor tenha boa dicção e proclame pausadamente ajudando a assembleia compreender o texto. Que haja preparação e que evite as improvisações. O belo costume de acompanha o evangelho com velas e incenso continua sendo bem oportuno. Vamos citar S. Agostinho que diz: a “Palavra de Cristo não é menos do que o Corpo de Cristo”. Também é de S. Agostinho a frase: que se bebe o Cristo no cálice das Escrituras como no cálice eucarístico.
3.      Comunidade convivial (ofertório) – aqui, o sacerdote e os ministros juntamente com o povo se deslocam da sede da liturgia da Palavra e do ambão para a mesa do altar. Os novos elementos lembram uma comunidade convivial: mesa do altar que é preparada com vinho e pão e com os respectivos vasos sagrados e os panos de mesa. No ofertório se leva e se dispõe sobre a mesa a matéria que serve para o banquete. Na origem, o binômio pão-vinho indicava a totalidade de uma vida (corpo e sangue) oferecidos com amor. A tradição cristã preferiu ver nisto o mistério da unidade simbolizado pelo pão formado por muitos grãos de trigo e pelo vinho oriundo de muitas uvas pisadas. Já a concepção moderna sublinhou outro aspecto que pode ser integrado na síntese eucarística: cada pedaço de pão como cada gole de vinho não é fruto simplesmente da terra e da natureza, mas do trabalho e do engenho do homem.
4.      Comunidade que rende graças... (prece eucarística) – agora a dinâmica celebrativa entre no coração da eucaristia quando em tom solene convida a assembleia a elevar-se às alturas da participação interior e exterior. A celebração eucarística se tornou uma proclamação de louvor-agradecimento, pois a eucaristia está ligada a páscoa do Senhor. A missa contém o sacrifício da exaltação da Cruz, quando o filho do homem atraiu todos a si (cf. Jo 12,32). O corpo representado pelo pão é verdadeiramente também para nós “o corpo doado e partido” que foi oferecido de uma vez por todas no Calvário, e o sangue é verdadeiramente o derramado então para a redenção do mundo.  Com isso, não é possível celebrar o santíssimo sacramento sem a presença e a ação misteriosa do Espírito Santo. A eficácia das palavras de Cristo não exclui, mas implica a ação misteriosa da virtus Spiritus Sancti, que é invocada solenemente com a imposição das mãos sobre os dons. A igreja, todos os dias, ao oferecer o Cristo, aprende a se oferecer a si mesma. Se até agora, em grande parte se nos apresentou “a igreja que faz a eucaristia”, agora as coisas invertem, é “a eucaristia que faz a igreja”. Cristo nos dá o seu corpo para fazer de nós o seu corpo e, assim, vai constituindo dia após dia a igreja. É indispensável a ação do Espírito Santo, que personaliza o dom, cria as disposições necessárias dentro de nós e sobretudo cria a unidade com a oferta-sacrifício de Cristo e entre nós. O louvor e o agradecimento pelos benefícios se completa com a intercessão e a súplica a Deus. A glorificação conclusiva tem ao centro o único mediador: Por Cristo, com Cristo, em Cristo... faz retornar tudo ao Pai. E a assembleia fecha com um forte AMÉM!
5.      Comunidade de comunhão e de partilha (rito de comunhão e despedida) – no rito da comunhão, a partir de s. Gregório Magno aparece o Pai Nosso. Segue-se a oração do sacerdote pela paz, depois finalmente a fractio panis – fração do pão – gesto importante feito por Jesus na última ceia. O canto do Agnus Dei – Cordeiro de Deus – acompanha toda a fração do pão. Cristão que não aceita o convite de união completa pelo sacramento da eucaristia oferecido pelo Senhor, se torna subnutrido espiritualmente.
6.      Comunidade enviada em missão – quando o sacerdote diz:  Ite, missa est ide em paz, o Senhor vos acompanhe, é um envio missionário do povo. Os fiéis católicos por força do batismo são missionários. Toda missa celebrada é uma festa de todos os fiéis sobre o monte de Sião. É festa no céu é festa aqui. A missa tem a mesma dimensão e a mesma eficácia da cruz. É aí que a igreja, convocada pela misericórdia de Deus, se torna convocante para chamar e pôr todos os homens a par dos bens recebidos, fazê-los cientes do que lhes está reservado.
7.      A espera do banquete final – a eucaristia, memorial da páscoa do Senhor, nos abre também a perspectivas futuras – a vinda de Cristo, a Parusia, novos céus e nova terra Ap 21,1. Por isso, desde a primeira geração cristã, participar da eucaristia queria dizer receber um germe de imortalidade, um ‘antídoto contra a morte’. Então, a eucaristia com o seu passado, presente e futuro é a unificação de todo homem a Cristo.
III.                Culto eucarístico fora da missa – a igreja, desde as origens, permitia que as sagradas espécies fossem levadas para casa com a finalidade do viático. O culto eucarístico é a adoração ao mais sublime sacramento. É o momento que o fiel se entende com o seu Senhor e entra em profunda intimidade com ele.






[1] Este esquema sobre a eucaristia foi retirado do Dicionário de Liturgia. SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. Dicionário de Liturgia. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1992.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Homilia de Papa Francisco em Assis

Homilia do Papa na Santa Missa em Assis:


«Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos» (Mt 11, 25).
A todos, paz e bem! Com esta saudação franciscana, agradeço-vos por terdes vindo a esta Praça, cheia de história e fé. Para rezarmos juntos.
Como tantos outros peregrinos, também eu vim hoje, para bendizer o Pai por tudo o que quis revelar a um destes «pequeninos» de que nos fala o Evangelho: Francisco, filho de um comerciante rico de Assis. O encontro com Jesus levou-o a despojar-se de uma vida cómoda e despreocupada, para desposar a «Senhora Pobreza» e viver como verdadeiro filho do Pai que está nos céus. Esta escolha, feita por São Francisco, constituía uma maneira radical de imitar a Cristo, de se revestir d’Aquele que, sendo rico, Se fez pobre para nos enriquecer por meio da sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). Em toda a vida de Francisco, o amor pelos pobres e a imitação de Cristo pobre são dois elementos indivisivelmente unidos, as duas faces da mesma medalha.
De que nos dá hoje testemunho São Francisco? Que nos diz ele, não com as palavras – isso é fácil –, mas com a vida?

1. A primeira coisa, a realidade fundamental de que nos dá testemunho é esta: ser cristão é uma relação vital com a Pessoa de Jesus, é revestir-se d’Ele, é assimilação a Ele.
De onde começa o caminho de Francisco para Cristo? Começa do olhar de Jesus na cruz. Deixar-se olhar por Ele no momento em que dá a vida por nós e nos atrai para Ele. Francisco fez esta experiência, de um modo particular, na pequena igreja de São Damião, rezando diante do crucifixo, que poderei também eu venerar hoje. Naquele crucifixo, Jesus não se apresenta morto, mas vivo! O sangue escorre das feridas das mãos, dos pés e do peito, mas aquele sangue exprime vida. Jesus não tem os olhos fechados, mas abertos, bem abertos: um olhar que fala ao coração. E o Crucifixo não nos fala de derrota, de fracasso; paradoxalmente fala-nos de uma morte que é vida, que gera vida, porque nos fala de amor, porque é o Amor de Deus encarnado, e o Amor não morre, antes derrota o mal e a morte. Quem se deixa olhar por Jesus crucificado fica recriado, torna-se uma «nova criatura». E daqui tudo começa: é a experiência da Graça que transforma, de sermos amados sem mérito algum, até sendo pecadores. Por isso, Francisco pode dizer como São Paulo: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Gal 6, 14).
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a permanecer diante do Crucifixo, a deixar-nos olhar por Ele, a deixar-nos perdoar, recriar pelo seu amor.

2. No Evangelho, ouvimos estas palavras: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 28-29).
Esta é a segunda coisa de que Francisco nos dá testemunho: quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar. Na ideia de muitos, São Francisco aparece associado com a paz; e está certo, mas poucos vão em profundidade. Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu, e que nos transmite? A paz de Cristo, que passou através do maior amor, o da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos discípulos, quando apareceu no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!»; e disse-o, mostrando as mãos chagadas e o peito trespassado (cf. Jo 20, 19.20).
A paz franciscana não é um sentimento piegas. Por favor, este São Francisco não existe! E também não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos... Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns se formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem «toma sobre si» o seu «jugo», isto é, o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei (cf. Jo 13, 34; 15, 12). E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração.
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a ser «instrumentos da paz», da paz que tem a sua fonte em Deus, a paz que nos trouxe o Senhor Jesus.

3. «Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, (...) louvado sejas (...) com todas as tuas criaturas» (FF, 1820). Assim começa o Cântico de São Francisco. O amor por toda a criação, pela sua harmonia. O Santo de Assis dá testemunho do respeito por tudo o que Deus criou e que o homem é chamado a guardar e proteger, mas sobretudo dá testemunho de respeito e amor por todo o ser humano. Deus criou o mundo, para que seja lugar de crescimento na harmonia e na paz. A harmonia e a paz! Francisco foi homem de harmonia e de paz. Daqui, desta Cidade da Paz, repito com a força e a mansidão do amor: respeitemos a criação, não sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas e que, por toda a parte, o ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da guerra na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, em todo o Médio Oriente, no mundo.
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: alcançai-nos de Deus o dom de haver, neste nosso mundo, harmonia e paz!

Não posso, enfim, esquecer que hoje a Itália celebra São Francisco como seu Padroeiro. Disso mesmo é expressão também o gesto tradicional da oferta do azeite para a lâmpada votiva, que este ano compete precisamente à Região da Úmbria. Rezemos pela Nação Italiana, para que cada um trabalhe sempre pelo bem comum, olhando mais para o que une do que para o que divide.
Faço minha a oração de São Francisco por Assis, pela Itália, pelo mundo: «Peço-Vos, pois, ó Senhor Jesus Cristo, pai das misericórdias, que Vos digneis não olhar à nossa ingratidão, mas recordai-Vos da superabundante compaixão que sempre mostrastes [por esta cidade], para que seja sempre o lugar e a morada de quantos verdadeiramente Vos conhecem e glorificam o vosso bendito e gloriosíssimo nome pelos séculos dos séculos. Amen» (Espelho de perfeição, 124: FF, 1824).



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Aporia entre o real e o formal

Aporia entre o real e o formal


Parafraseando o papa que pergunta: “quem sou eu para julgar os gays?”, pergunto: quem sou eu para aconselhar ou julgar o papa? Porém, e servindo-me das suas próprias palavras: “quero consultas reais e não formais”, pergunto: por que a Igreja, via Cúria Romana, Nunciaturas, Sínodos Episcopais faz tantas consultas e erra tanto? Nomeações aparentemente absurdas de bispos e assessores curiais fora das realidades locais das Igrejas dispersas pelo mundo inteiro atestam o que estamos querendo comentar.

Referindo-se ao Concílio Vaticano II (Lumen Gentium) ele enfatiza que o “sentir com a Igreja” não está ligado ao sentir somente com a hierarquia, mas com o conjunto dos fiéis que é infalível no crer e manifesta essa sua infalibilidade crendo mediante o sentido sobrenatural da fé de todo o povo que caminha.

É emblemática esta afirmação do pontífice: “O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou clérigos de Estado”. Lendo isso a gente se pergunta: será mesmo assim? Seria assim se o papa realmente governasse a Igreja, mas infelizmente quem a governa são os assessores, muitos ou quase todos carreiristas, oportunistas, funcionários de Estado (o Estado do Vaticano, uma excrescência diante do Evangelho, pois Jesus não governou Estado nenhum, nem teve núncios que O representasse nas relações com as comunidades civis), cardeais que nunca foram pastores, bispos “fabricados” em “igrejinhas conventuais” e outras anomalias da vida do Povo de Deus.

Ah! Papa Francisco, se D. Hélder ainda fosse vivo para ter uma longa conversa com vossa santidade... aí, sim, o Vigário de Cristo teria um assessor capaz de mediar as aspirações e agruras do povo e não gestores de uma instituição até então muito mal governada.

Que Deus inspire V. Santidade, a fim de que impeça a Igreja de fazer da fé uma ideologia e esse evento de salvação uma instituição voltada para seu “mundinho”, sua própria sobrevivência.

Pe. Luiz Rodrigues


FONTE:http://www.fecatolica.com.br/coluna.php?id=705

Lázaro no céu e o homem rico no inferno

Lázaro e o homem rico


1 leitura: Am 6, 1a.4-7
Sl 145 (146)
2 leitura: 1Tm 6,11-16
Evangelho: Lc 16, 19-31

A Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum vivencia um tema muito caro para a Igreja de Cristo: a relação com os bens materiais e o cuidado com aqueles que são pobres. O profeta Amós, no século VIII a.C., denuncia a postura de alguns dirigentes do povo. “Ai daqueles que vivem comodamente em Sião”.  O pecado aqui está em usar indevidamente do lugar que ocupa para o seu próprio bem estar; seja ele sacerdote, seja ele governante do povo. O poder que a pessoa recebe é sempre em função de um serviço àqueles que o elegeram para tal. É fazer da sua autoridade um modo de servir bem e melhor o seu irmão, principalmente na comunidade, na Igreja. Ter bens e possuir riqueza não é ruim, mas não é bom quando a pessoa esbanja nas farras no dia a dia, na cachaçada, na prostituição, usando aquilo que tem indevidamente enquanto tem uma pessoa perto de si precisando e passando fome. Pode observar que onde tem um rico prepotente e fanfarrão, tem um pobre a sua volta sendo explorado. A denúncia de Amós há tantos séculos atrás, pode nos levar a uma reflexão hoje: como está sendo utilizado pelos nossos governantes o dinheiro público do Brasil ou, aliás, dinheiro do imposto que o brasileiro paga?
A segunda leitura da primeira Carta de São Paulo a Timóteo, começa falando como deve ser a postura do cristão. Primeiramente o cristão é um, ὦ ἄνθρωπε θεοῦ - ó homem de Deus, ou seja, verdadeiramente um homem de Deus 1Tm 6,11. Este homem deve praticar a justiça, a caridade, a fé, a piedade e perseverar na mansidão. A exortação de São Paulo não se aplica somente na comunidade de fé, mas estende a toda a sociedade. Pois é na sociedade que o cristão testemunha o Cristo vivo. São Paulo quer ir além, quer que o fiel combata a fé, lute para ganhar a vida eterna e que dê testemunho de vida. O testemunho vai ser a consequência de uma fé vivida e praticada tanto na Igreja-comunidade de povo de Deus, como na sociedade. E como é que o cristão deve viver hoje na comunidade? Testemunhando e professando sua fé e ao mesmo tempo realizando boas obras. O cristão é chamado por Deus à vida eterna. E a garantia disso será o seu testemunho de fé e a sua relação na comunidade entre os irmãos praticando boas obras.

No Evangelho, temos a história de um homem rico que se vestia bem e fazia festa todos os dias. E de um homem pobre cheio de feridas que ficava no portão do rico desejando comer as migalhas que caiam da mesa. O evangelho de Lucas não entra em detalhes dobre a vida dos dois – do pobre e do rico –, sobre outras possíveis condutas de vida. Bom, os dois morrem e um vai para o céu e o outro para a mansão dos mortos: inferno. O que determina este trecho do evangelho é a riqueza e a pobreza. Para o evangelista, os bens são dons de Deus, são graça de Deus, e quem possui deve utilizar em favor da comunidade e não de si próprio. Se os bens são dons de Deus, dons que Deus possibilitou uma pessoa a ter, então estes bens devem ser partilhados entre todos. Assim todos terão a possibilidade de viver de forma digna. Deus cria e dá ao homem para administrar. Então o ser humano é um administrador dos bens terrenos e não um usurpador. O pobre estava ao pé do portão do rico, poucos metros da mesa. O portão fechado significa que ele não tinha acesso às coisas básica da vida de um homem: a comida na mesa. Ele era um excluído e um marginalizado da vida digna. Hoje quantos portões são fechados e quantos acessos à mesa são negados por aqueles que têm bens materiais com fartura? Neste sentido, o pobre deve colocar sua confiança no Senhor; e o rico deve rever sua postura na comunidade e colocar em prática a exortação de Paulo na segunda leitura: o cristão deve praticar a justiça, a caridade, a fé, a piedade 1Tm 6,11. Voltemos nossa confiança no Senhor, pois como relata o salmo 145 (146) desta liturgia, “o Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e liberdade aos cativos”.