quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Cur Deus Homo? Por que Deus se fez homem?

DIVINIZAÇÃO DO HOMEM

Capela da Faculdade Católica de Feira de Santana

A divinização do homem 1Jo 3,2: “Desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é.”
Todos nós somos filhos de Deus desde a concepção. Somos seminae verbi – semente do verbo. O batismo nos concede ser filho de Deus no filho Jesus. O batismo nos insere no mistério Pascal de morte e ressurreição de Jesus. São João diz que somos filhos de Deus, mas o que seremos ainda não se manifestou. Mas seremos semelhantes a Deus. Já somos imagem, pois a imagem é a marca do Divino e semelhança o que viremos a ser. Cristo é o ser humano prefeito que restitui aos filhos de Adão a semelhança divina deformada pelo pecado. Restitui a semelhança não a imagem. Cristo pela encarnação, a crucifixão, a morte e a ressurreição, expiação vicária, restitui ao homem a semelhança. Porque a imagem não foi destruída pelo pecado original. Pela redenção o homem ganhou a possibilidade de se assemelhar a Deus.
Feito conforme a imagem do filho recebe as primícias do Espírito. Rm 8,23 – “temos as primícias do Espírito”. O que são as primícias do Espírito?
Ef 1,14: “que é o penhor da nossa herança...”
As primícias do Espírito é o penhor da herança. Quem nos garante a herança é o Espírito que habita em nós. O semi divino que nos foi dado ao sermos gerados. O homem todo se renova interiormente até a redenção do corpo. 
Gaudium et Spes 22
Cristo é o ser humano perfeito que restitui aos filhos de Adão a semelhança divina deformada pelo pecado feito conforme a imagem do Filho e recebe as primícias do Espírito Santo que são penhor da herança eterna que renova o homem interiormente até a redenção do corpo: “Jesus Cristo é o homem que revela o homem ao próprio homem e lhe aponta sua altíssima vocação.”
Em síntese, a semelhança não consiste em ser Deus. Mas, em permanecendo humano poder ver e conviver com Deus. A semelhança é um poder de possibilidade de ver e conviver com Deus. Humano mesmo – carne e osso. A divinização se dá na carne. A carne humana ressuscitada não somente será a imagem do Cristo encarnado ressuscitado, mas poderá também suportar a visão de Deus sem constrangimento. Como é Deus mesmo? Quando nós o virmos face a face, como será? Esta carne humana ressuscitada poderá ver a carne de Cristo ressuscitado e poderá suportar a visão de Deus sem constrangimento. Só o veremos tal qual ele é quando nossa carne ressuscitar. Esta carne não é o Bios, é o Zoé.
Jesus é o revelador do Pai. O revelador do Pai é o mesmo que revela o homem ao próprio homem. Somos feitos, diz São Paulo, à estatura de Deus. Pela obediência radical de Jesus, a humanidade recuperou a possibilidade do icônico e do assemelhamento divino. Por esse ato de desapego de kenises de Jesus toda a humanidade recuperou a possibilidade da imagem e da semelhança divina na forca do Espírito Santo. Todos os mistérios da vida de Jesus foram sustentados pelo Espírito. O salmo 22 e o salmo 31 conjugados no mesmo espaço e proclamados por vários evangelistas: “Eli, Eli, lamá sabactani” e “Tudo está consumado” “Pai nas tuas mãos eu entrego o meu espírito”. Esta ação vicária de Jesus restabelecedora da iconicidade do assemelhamento divino para a humanidade. Ele esvaziou-se totalmente e deu ao homem a possibilidade do assemelhamento. Agora Cristo é o homem mais homem, sacerdote eterno, sumo e eterno que restabelece com o homem a nova e eterna aliança. Nova porque é eterna, não envelhecerá mais. As outras envelheceram e passaram, esta nova não passará mais, será sempre nova e eterna. Esta aliança está consumada na cruz. A nostalgia do infinito, o homem sempre procurou transcender a si mesmo e alcançar o infinito, este é um sonho, que é aquele sonho nostálgico de Adão que queria já aí superar a sua finitude numa impossibilidade material que se tornou pecado original para nós – Adão queria ser como Deus. Esta é a nostalgia do infinito.
Jesus Cristo relevou o Pai e o homem ao homem e lhe apontou sua altíssima vocação.
Jo 17,17 – “santificai-os na verdade; tua palavra é verdade.” A nossa altíssima vocação é a santidade. A fim de que como tu o Pai estás em mim e eu em tu que eles estejam em mim e eu em tu para que sejam um como nós, que sejam perfeitos na unidade. Esta é a vocação do homem que Jesus revela ao homem: ser santificados na verdade. Todo ser humano é adão e vai se tornando Crístico. É um ser adamítico e vai se tornando Crístico. O processo de santificar é se tornar Crístico. Mas esta santidade do ser humano ainda não está garantida porque o pecado original impede obstaculizando a santidade do homem. Ou por causa da sua liberdade, o homem pode não querer santificar-se.
Conhecer Jesus nesta vida de carne é ir se assemelhando a ele sempre mais. É um processo dinâmico. O ser humano adamítico foi criado à imagem de Cristo e não de Adão. A nossa marca originaria é Cristo. Em Jesus de modo singular o verbo se fez carne; até Cristo tornou-se adamítico semelhante a nós exceto o pecado. O Criador e modelo se fez criatura e modelado ao assumir a carne humana. Para que a criatura reconhecesse sua originalidade e para que toda carne, também a carne de Deus em Jesus, fosse salva, isto é, fosse elevada a estatura de Deus. Toda carne, porque o que não é totalmente assumido não é redimido. A imagem original humana atingiria sua plenitude assemelhada a Deus. A carne humana tornar-se-a divinizada não só porque elevada em Jesus, mas porque a começar dele todo ser humano poderá se assemelhar a Deus como estava estabelecido desde o princípio. Nós somos semelhantes porque participamos da natureza divina.
Somente o homem histórico cristificado e pneumatizado é semelhante a Deus uno e Trino. Nós somos cristificado. Entramos no mistério Crístico do ser. E ao fazer não somente assumimos o que tem de especial nessa dinâmica da salvação, nessa economia da salvação historicamente em Cristo Jesus, mas preexistente e comunitariamente no Espírito Santo que em Jesus habita, o historiciza e nos dá a condição de partícipe deste mistério Trinitário. Nós procedemos do Pai, no Filho nós nos redimimos e o Espírito nos concede o dom de adentrar o mistério de Deus que se chama Trindade. Pela histórica carnal de Jesus entramos no coração da Trindade e pela ação do Espírito que deu a Jesus a condição encarnatória e de ressuscitado, nós entramos na comunidade da Trindade. Nós somos partícipes da natureza divina que é Trindade. Nós somos imagem de Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Para santo Agostinho, todas as coisas enquanto criaturas, se assemelham a Deus porque nelas estão impressos os vestígios e as marcas de Deus. Mas, aí nas coisas a semelhança é pobre, pequena e obscura. Mas no ser humano ela é maior porque ele é imagem de Deus. As coisas podem assemelhar-se a Deus enquanto vestígios que possuem de Deus na criação, mas o ser humano pode assemelhar-se mais porque o ser humano tem a imagem de Deus em si. E é a imagem que potencializa o ser humano ao assemelhamento pleno a Deus. Santo Agostinho conclui dizendo: assim toda imagem é semelhante, mas nem toda semelhança é imagem.
Resumindo a imagem: a imagem é formada na criação, deformada no pecado original, reformada na justificação e graça, e consumada na escatologia.

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