terça-feira, 27 de agosto de 2013

Aula de Cristologia: A mediação de Cristo e do sacerdote

Resumo da Aula de Cristologia[1]

Pergunta: Jesus está todo no Logus? Jesus contém a plenitude do Logus? Ou Jesus é apenas uma partícula do Logus? Se Jesus contém todo o logos, fora de Jesus não há salvação. Haveria fragmento do verbo em outra pessoa? Ou só em Jesus? Jesus está todo no verbo?
Existe uma mudança de paradigma religioso é uma realidade que veio para ficar, devemos contemplar o seu lado positivo, existe uma mudança de paradigma dentro das comunidades e dentro dos estreitos limites da razão ocidental. É preciso contemplar outras realidades das racionalidades que não a ocidental. No ocidente Jesus é o Senhor e outras culturas não o têm como Senhor. (Esse é o que fala aqueles que discutem o diálogo Inter-religioso).
A problemática maior que a teologia do pluralismo religioso levante diz respeito, sobretudo ao dogma da encarnação que confere a Jesus as características de unicidade e universalidade em ordem à salvação da humanidade. É o que fala At 4,12 “só em Jesus há salvação...” A encarnação Jo 1,14, no dizer de alguns do diálogo inter-religioso, seria uma expressão não objetiva e metafórica, poética, mitológica que pretende somente significar o amor de Deus que se encarna em homens e mulheres cujas vidas reflitam a ação de Deus. Roma diz basta! A encarnação que é o texto fundante da nossa Cristologia no dizer de alguns do diálogo inter-religioso é uma metáfora. Segundo J. Hich sendo o verbo maior que Jesus ele pode encarnar-se também nos fundadores de outras religiões, naqueles cujas vidas reflitam a ação de Deus. Outra forma de argumento: sendo o Espírito Santo a ação de Deus salvífica e universal, isto não nos levaria necessariamente à fé em Jesus Cristo, e agora? Heresia!
Sobre a pessoa de Cristo ver: At 4,12; Jo 1,14; Gl 4,4-6; Fl 2,4-7.
O Deus que quer salvar a todos é o Pai de nosso Jesus cujo desígnio de salvação precede a criação do mundo. Ef 1,3-10. Pré-existência do verbo. Jesus é precedente. “Escolheu-nos para sermos santos e irrepreensíveis...”
Apocatástase – recapitulação de tudo, Orígenes desenvolveu e virou uma heresia na igreja. Recapitulação de todas as coisas de Cristo. Alguém chegou a afirmar que todos no final se salvariam inclusive o diabo. (Heresia)
O texto de Ef Vai desde a pré-existência até o eskaton. O Deus que quer salvar a todos é o Pai de Jesus Cristo. Cujo desígnio de salvação precede a criação do mundo. E se realiza no enviou de Jesus ao mundo. Jo 3,16. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho unigênito...: único no gênero. Todo aquele que nele crê será salvo, crer e ser batizado.
Este amor chega até a morte:
Rm 5,8-11 “Mas Deus demonstra seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores. Assim, tornados justos pelo sangue de Cristo, com maior razão, seremos salvos da ira por meio dele. Se quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus por meio da morte do seu Filho, muito mais agora, já reconciliados, seremos salvos por sua vida. E não só isso. Também nos gloriamos em Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual obtivemos agora a reconciliação.”
Rm 8,3. “Deus tornou possível aquilo que para a Lei era impossível, porque os instintos egoístas a tornaram impotente. Ele enviou seu próprio Filho numa condição semelhante à do pecado, em vista do pecado, e assim condenou o pecado na sua carne mortal.”
Deus enviou o seu filho em carne de pecado – ele se fez pecado por nós.
Rm 8,32. “Ele não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós. Como não nos dará também todas as coisas junto com o seu filho?”
2 Cor 5,18-19 ele é a salvação. Que a salvação se adquire somente pela fé em Jesus Cristo é uma afirmação constante do Novo Testamento. Os que creem em Jesus Cristo são a nova descendência de Abraão.
Rm 9,6-7. “Nem todos são descendentes de Abraão. É a descendência de Abraão que é conferido este múnus salvífico.”
Gl 3,29. “E se vocês pertencem a Cristo, então vocês são de fato a descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa.”
Jo 8,31. Verdade e liberdade. A verdade vós liberte.
Lc 1,55. “que foi prometido a Abraão...”. Nós somos a descendência de Abraão. A graça é para todos, porém essa bênção passa por Abraão. “A benção de todos em Abraão encontra seu sentido na benção de todos em Jesus Cristo”. (CTI 569)[2]. Esse Jesus Cristo é único mediador. Hb 8,6. “Jesus, porém, foi encarregado para um serviço sacerdotal superior, pois é mediador de uma aliança melhor, que promete melhores benefícios.”
Único mediador.
Hb 9,15. “Desse modo, ele é o mediador de uma nova aliança. Morrendo, nos livrou das faltas cometidas durante a primeira aliança, para que os chamados recebam a herança definitiva que foi prometida”.
Hb 12,24. “... e de Jesus, o mediador de uma nova aliança. Vocês se aproximaram do sangue da aspersão, que fala muito mais alto que o sangue de Abel.”
A unicidade do mediador corresponde à unicidade de um Deus que quer salvar a todos; o mediador é Jesus Cristo;
Também aqui se trata da significação universal de Jesus Cristo enquanto é o filho de Deus encarnado, ele tem uma significação universal, não mitológica, metafórica, mas real. Ele é mediador entre deus e os homem porque é o filho feito homem que se entregou à morte em resgate de todos. (CTI 571). Este é o sangue da Nova e eterna Aliança. Novo aqui não é aliança que vem depois da velha. Não é aliança nova cronologicamente, é nova porque é eterna. Sempre é nova porque é eterna. Todos os dias ela se dá.
Mediação está relacionada à salvação. Existe mediação, no campo da teologia, para que aconteça a salvação. Pois segundo a concepção religiosa antiga, a salvação precisa fundamentalmente de um mediador que operacionalize a salvação. Não dá por acaso, precisa de um mediador. Jesus Cristo é o mediador da salvação universal, mas que não está historicamente vivo entre nós, quem o encarnar, atualiza e personifica é a Igreja. A Igreja é a mediação sensível da salvação no mundo. Mediação está relacionada à salvação, pois segundo a concepção religiosa antiga, a salvação necessita de um mediador salvador, com isto surge o sacerdote, o culto, o rito e os argumentos a cerca da expiação. Tudo isso seria necessário para que o homem pudesse se aproximar de Deus mesmo que tivesse uma conduta irrepreensível porque permanece no mundo meramente humano. Olha a importância do sacerdote e da pureza do sacerdócio que celebra e da pureza do culto. O homem que a processa deve estar em devir de santidade para que ele em sua vida e exemplo tenha simetria com o Deus santo a quem ele que elevar o homem: queremos aproximar o pecador de Deus. Nem sermos anjos no Céu nem sermos lixos na terra.
Não se trata simplesmente de abrir para acolher, mas de sair porta a fora para procurar e encontrar decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia (Papa Francisco). Ir na miséria não significa ser miséria com eles, mas ajudá-los a sair de tal situação.
Tudo isso seria necessário para o homem se aproximar de Deus mesmo que tivesse uma conduta irrepreensível. É preciso transcender, sair do espectro profano e adentrar no mundo do sagrado. Para nós processarmos a mediação salvífica, é preciso que nós saiamos para adentrar no mundo do sagrado. O revestimento do sagrado começa pelo reconhecimento e respeito à dignidade do ser humano. Somente o sacerdote com seus poderes, rito poderá fazer isso. Qual o valor do ser humano? “É preciso reverenciar a imagem de Deus que está em você.” “Imagem de Deus: cada ser humano.”
O sacerdote é o mediador entre o sagrado e o profano, entre Deus e o homem. “para aproximar-se a Deus, o decisivo entrar no mundo diferente o mundo do sagrado, o radicalmente diferente e separado do profano, a esfera do divino e sobrenatural”. Ora, o homem tem acesso a esta esfera e a esse mundo mediante os ritos e cerimônias que o separa do profano e lhe possibilita o acesso ao sagrado. O sacerdote é este homem do sagrado, e esta mediação se dá no culto e o seu centro é o sacrifício expiatório; o centro do culto sacerdotal é o sacrifício expiatório. Vemos, entretanto, no Antigo Testamento que Deus dá outra perspectiva a esta relação ao celebrar a Aliança com o seu povo; e no NT muda-se radicalmente essa dimensão cúltica da relação com Deus. No AT, a casta sacerdotal servia dessa sua posição para oprimir, para projetar-se, para benesses; esta não é a perspectiva sacerdotal; a perspectiva sacerdotal é a de alguém que carrega sobre si os pecados da humanidade. Cristo carregou nos seus ombros os pecados da humanidade.
Vemos no AT que Deus dá outra perspectiva a essa relação ao celebrar aliança com seu povo; quando Deus estabelece uma aliança com Moisés, com Abraão etc. ele está agindo transcendentalmente numa historia natural. Ele está intervindo na história dos homens, chamando cada homem pelo nome. No NT muda-se radicalmente essa relação cúltica com Deus, em Jesus Cristo se manifesta um Deus muito diferente daquele que se manifestou nas religiões do entorno de Israel. Assim o ser sacerdotal mediador deve ser compreendido  a partir do que disse e fez Jesus Cristo.
 Jo 4, 21-24 “Jesus disse: Mulher, acredite em mim. Está chegando a hora, em que não adorarão o Pai, nem sobre esta montanha nem em Jerusalém. Vocês adoram o que não conhecem, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade. Porque são estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.”
Este é um tempo novo, não é um tempo de usar animais e objetos. O Deus os quer como adoradores e consequentemente como mediadores da ação salvífica. O Deus que o NT conhece é um Deus próximo, o Deus conosco. E esta sua aproximação é condição de possibilidade de sua manifestação e conteúdo de sua própria realidade. Deus aproxima-se ao homem e dá lhe a possibilidade de sua manifestação. A mediação agora é carnal. Deus nos salvou na carne. O verbo se fez carne e habitou entre nós.
Pode se dizer assim: que o sacerdote mediador de Jesus Cristo é a sua real e efetiva humanidade. O sacerdote mediador de Jesus é a sua carne, é salvador na carne, é redentor na existência, na pré-existência, porque ele é criador, e Deus nos cria para nos salvar. Portanto Cristo já é nosso redentor na pré-existência. Embora o sacrifício tenha o seu sentido, o sacrifício expiatório perdeu sua densidade teológica depois da vinda de Jesus. O único sacrifício expiatório verdadeiro agora é Jesus Cristo que nos salvou. O único sacrifício expiatório foi o de Jesus Cristo que nos salvou na cruz. Segundo J. Sobrino, Jesus Cristo é sacerdote e mediador por ser humano e humano sem acréscimo. Nada mais que isso. Jesus é humano, Homem humanizado, não precisa de acréscimo. Ele nos salvou na carne. A este respeito, vale a pena revermos a carta aos Hebreus e o que nela está contida a cerca do Sumo Sacerdote e não nos esquecermos das promessas sacerdotais segundo a ordem de Melquisedec.


[1] Este resumo foi feito a partir da aula de Cristologia.
[2] Comissão Teológica Internacional

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