Resumo da Aula de Cristologia
Pergunta: Jesus está todo no Logus? Jesus contém a
plenitude do Logus? Ou Jesus é apenas uma partícula do Logus? Se Jesus contém
todo o logos, fora de Jesus não há salvação. Haveria fragmento do verbo em
outra pessoa? Ou só em Jesus? Jesus está todo no verbo?
Existe uma mudança de paradigma religioso é uma
realidade que veio para ficar, devemos contemplar o seu lado positivo, existe
uma mudança de paradigma dentro das comunidades e dentro dos estreitos limites
da razão ocidental. É preciso contemplar outras realidades das racionalidades
que não a ocidental. No ocidente Jesus é o Senhor e outras culturas não o têm
como Senhor. (Esse é o que fala aqueles que discutem o diálogo
Inter-religioso).
A problemática maior que a teologia do pluralismo
religioso levante diz respeito, sobretudo ao dogma da encarnação que confere a
Jesus as características de unicidade e universalidade em ordem à salvação da
humanidade. É o que fala At 4,12 “só em Jesus há salvação...” A encarnação Jo
1,14, no dizer de alguns do diálogo inter-religioso, seria uma expressão não
objetiva e metafórica, poética, mitológica que pretende somente significar o
amor de Deus que se encarna em homens e mulheres cujas vidas reflitam a ação de
Deus. Roma diz basta! A encarnação que é o texto fundante da nossa Cristologia
no dizer de alguns do diálogo inter-religioso é uma metáfora. Segundo J. Hich
sendo o verbo maior que Jesus ele pode encarnar-se também nos fundadores de outras
religiões, naqueles cujas vidas reflitam a ação de Deus. Outra forma de
argumento: sendo o Espírito Santo a ação de Deus salvífica e universal, isto
não nos levaria necessariamente à fé em Jesus Cristo, e agora? Heresia!
Sobre a pessoa de Cristo ver: At 4,12; Jo 1,14; Gl
4,4-6; Fl 2,4-7.
O Deus que quer salvar a todos é o Pai de nosso
Jesus cujo desígnio de salvação precede a criação do mundo. Ef 1,3-10.
Pré-existência do verbo. Jesus é precedente. “Escolheu-nos para sermos santos e
irrepreensíveis...”
Apocatástase – recapitulação de tudo, Orígenes
desenvolveu e virou uma heresia na igreja. Recapitulação de todas as coisas de
Cristo. Alguém chegou a afirmar que todos no final se salvariam inclusive o
diabo. (Heresia)
O texto de Ef Vai desde a pré-existência até o eskaton.
O Deus que quer salvar a todos é o Pai de Jesus Cristo. Cujo desígnio de
salvação precede a criação do mundo. E se realiza no enviou de Jesus ao mundo.
Jo 3,16. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho unigênito...: único
no gênero. Todo aquele que nele crê será salvo, crer e ser batizado.
Este amor chega até a morte:
Rm 5,8-11 “Mas Deus demonstra seu amor para conosco
porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores. Assim, tornados
justos pelo sangue de Cristo, com maior razão, seremos salvos da ira por meio
dele. Se quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus por meio da morte
do seu Filho, muito mais agora, já reconciliados, seremos salvos por sua vida.
E não só isso. Também nos gloriamos em Deus por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo, do qual obtivemos agora a reconciliação.”
Rm 8,3. “Deus tornou possível aquilo que para a Lei
era impossível, porque os instintos egoístas a tornaram impotente. Ele enviou
seu próprio Filho numa condição semelhante à do pecado, em vista do pecado, e
assim condenou o pecado na sua carne mortal.”
Deus enviou o seu filho
em carne de pecado – ele se fez pecado por nós.
Rm 8,32. “Ele não
poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós. Como não nos dará
também todas as coisas junto com o seu filho?”
2 Cor 5,18-19 ele é a salvação. Que a salvação se
adquire somente pela fé em Jesus Cristo é uma afirmação constante do Novo
Testamento. Os que creem em Jesus Cristo são a nova descendência de Abraão.
Rm 9,6-7. “Nem todos são descendentes de Abraão. É a
descendência de Abraão que é conferido este múnus salvífico.”
Gl 3,29. “E se vocês pertencem a Cristo, então vocês
são de fato a descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa.”
Jo 8,31. Verdade e liberdade. A verdade vós liberte.
Lc 1,55. “que foi prometido a Abraão...”. Nós somos
a descendência de Abraão. A graça é para todos, porém essa bênção passa por
Abraão. “A benção de todos em Abraão encontra seu sentido na benção de todos em
Jesus Cristo”. (CTI 569).
Esse Jesus Cristo é único mediador. Hb 8,6. “Jesus, porém, foi encarregado para
um serviço sacerdotal superior, pois é mediador de uma aliança melhor, que
promete melhores benefícios.”
Único mediador.
Hb 9,15. “Desse modo, ele é o mediador de uma nova
aliança. Morrendo, nos livrou das faltas cometidas durante a primeira aliança,
para que os chamados recebam a herança definitiva que foi prometida”.
Hb 12,24. “... e de Jesus, o mediador de uma nova aliança.
Vocês se aproximaram do sangue da aspersão, que fala muito mais alto que o
sangue de Abel.”
A unicidade do mediador corresponde à unicidade de
um Deus que quer salvar a todos; o mediador é Jesus Cristo;
Também aqui se trata da significação universal de
Jesus Cristo enquanto é o filho de Deus encarnado, ele tem uma significação
universal, não mitológica, metafórica, mas real. Ele é mediador entre deus e os
homem porque é o filho feito homem que se entregou à morte em resgate de todos.
(CTI 571). Este é o sangue da Nova e eterna Aliança. Novo aqui não é aliança
que vem depois da velha. Não é aliança nova cronologicamente, é nova porque é
eterna. Sempre é nova porque é eterna. Todos os dias ela se dá.
Mediação está relacionada à salvação. Existe mediação,
no campo da teologia, para que aconteça a salvação. Pois segundo a concepção
religiosa antiga, a salvação precisa fundamentalmente de um mediador que
operacionalize a salvação. Não dá por acaso, precisa de um mediador. Jesus
Cristo é o mediador da salvação universal, mas que não está historicamente vivo
entre nós, quem o encarnar, atualiza e personifica é a Igreja. A Igreja é a
mediação sensível da salvação no mundo. Mediação está relacionada à salvação,
pois segundo a concepção religiosa antiga, a salvação necessita de um mediador
salvador, com isto surge o sacerdote, o culto, o rito e os argumentos a cerca
da expiação. Tudo isso seria necessário para que o homem pudesse se aproximar
de Deus mesmo que tivesse uma conduta irrepreensível porque permanece no mundo
meramente humano. Olha a importância do sacerdote e da pureza do sacerdócio que
celebra e da pureza do culto. O homem que a processa deve estar em devir de
santidade para que ele em sua vida e exemplo tenha simetria com o Deus santo a
quem ele que elevar o homem: queremos aproximar o pecador de Deus. Nem sermos
anjos no Céu nem sermos lixos na terra.
Não se trata simplesmente de abrir para acolher, mas
de sair porta a fora para procurar e encontrar decididamente pensemos a
pastoral a partir da periferia (Papa Francisco). Ir na miséria não significa
ser miséria com eles, mas ajudá-los a sair de tal situação.
Tudo isso seria necessário para o homem se aproximar
de Deus mesmo que tivesse uma conduta irrepreensível. É preciso transcender,
sair do espectro profano e adentrar no mundo do sagrado. Para nós processarmos
a mediação salvífica, é preciso que nós saiamos para adentrar no mundo do
sagrado. O revestimento do sagrado começa pelo reconhecimento e respeito à
dignidade do ser humano. Somente o sacerdote com seus poderes, rito poderá
fazer isso. Qual o valor do ser humano? “É preciso reverenciar a imagem de Deus
que está em você.” “Imagem de Deus: cada ser humano.”
O sacerdote é o mediador entre o sagrado e o
profano, entre Deus e o homem. “para aproximar-se a Deus, o decisivo entrar no
mundo diferente o mundo do sagrado, o radicalmente diferente e separado do
profano, a esfera do divino e sobrenatural”. Ora, o homem tem acesso a esta
esfera e a esse mundo mediante os ritos e cerimônias que o separa do profano e
lhe possibilita o acesso ao sagrado. O sacerdote é este homem do sagrado, e
esta mediação se dá no culto e o seu centro é o sacrifício expiatório; o centro
do culto sacerdotal é o sacrifício expiatório. Vemos, entretanto, no Antigo
Testamento que Deus dá outra perspectiva a esta relação ao celebrar a Aliança
com o seu povo; e no NT muda-se radicalmente essa dimensão cúltica da relação
com Deus. No AT, a casta sacerdotal servia dessa sua posição para oprimir, para
projetar-se, para benesses; esta não é a perspectiva sacerdotal; a perspectiva
sacerdotal é a de alguém que carrega sobre si os pecados da humanidade. Cristo
carregou nos seus ombros os pecados da humanidade.
Vemos no AT que Deus dá outra perspectiva a essa
relação ao celebrar aliança com seu povo; quando Deus estabelece uma aliança
com Moisés, com Abraão etc. ele está agindo transcendentalmente numa historia
natural. Ele está intervindo na história dos homens, chamando cada homem pelo
nome. No NT muda-se radicalmente essa relação cúltica com Deus, em Jesus Cristo
se manifesta um Deus muito diferente daquele que se manifestou nas religiões do
entorno de Israel. Assim o ser sacerdotal mediador deve ser compreendido a partir do que disse e fez Jesus Cristo.
Jo 4, 21-24 “Jesus disse: Mulher,
acredite em mim. Está chegando a hora, em que não adorarão o Pai, nem sobre esta
montanha nem em Jerusalém. Vocês adoram o que não conhecem, nós adoramos o que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é
agora, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade.
Porque são estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles
que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.”
Este é um tempo novo, não é um tempo de usar animais
e objetos. O Deus os quer como adoradores e consequentemente como mediadores da
ação salvífica. O Deus que o NT conhece é um Deus próximo, o Deus conosco. E
esta sua aproximação é condição de possibilidade de sua manifestação e conteúdo
de sua própria realidade. Deus aproxima-se ao homem e dá lhe a possibilidade de
sua manifestação. A mediação agora é carnal. Deus nos salvou na carne. O verbo
se fez carne e habitou entre nós.
Pode se dizer assim:
que o sacerdote mediador de Jesus Cristo é a sua real e efetiva humanidade. O
sacerdote mediador de Jesus é a sua carne, é salvador na carne, é redentor na
existência, na pré-existência, porque ele é criador, e Deus nos cria para nos
salvar. Portanto Cristo já é nosso redentor na pré-existência. Embora o
sacrifício tenha o seu sentido, o sacrifício expiatório perdeu sua densidade
teológica depois da vinda de Jesus. O único sacrifício expiatório verdadeiro
agora é Jesus Cristo que nos salvou. O único sacrifício expiatório foi o de
Jesus Cristo que nos salvou na cruz. Segundo J. Sobrino, Jesus Cristo é
sacerdote e mediador por ser humano e humano sem acréscimo. Nada mais que isso.
Jesus é humano, Homem humanizado, não precisa de acréscimo. Ele nos salvou na
carne. A este respeito, vale a pena revermos a carta aos Hebreus e o que nela
está contida a cerca do Sumo Sacerdote e não nos esquecermos das promessas
sacerdotais segundo a ordem de Melquisedec.