sábado, 27 de julho de 2013

ACOMPANHAMENTO PASTORAL NA PARÓQUIA

Como desenvolver um bom acompanhamento pastoral na Paróquia.[1]


No acompanhamento pastoral é preciso estar atento às grandes questões da vida como sofrimento, causado pela ação do mal. Não tem como falar de ser humano sem falar muitas vezes de sofrimento. João Paulo II afirmou que: “o homem sofre de diversas maneiras”. (SD 5)[2] Em muitos casos, o sofrimento começou com uma crise na vida da pessoa ou da família ou, ainda, de uma parente ou amigo próximo. Um membro de uma família, por exemplo, que está passando por uma situação de crise num grau mais profundo, pode desestruturar todos da casa.
O padre, como pastor e enviado numa Paróquia, não pode se esquivar da escuta do sofrimento das pessoas, mas, ao contrário, ele deve estar atento às necessidades de seu rebanho, inclusive na hora em que é solicitada a sua presença e de um acompanhamento pessoal. É no ministério Eucarístico que o sacerdote realiza sua função principal (PO 13)[3], mas o acompanhamento personalizado, direcionado, é um sacrifício santo e agradável a Deus, pois ele estará salvando almas da confusão e perdição. Quantas pessoas necessitam de uma palavra que as indique, que as ajude na saída de uma crise! Fazer um acompanhamento pastoral é tão caro quanto guardar um baú cheio de tesouro, pois quando uma pessoa procura um padre, um psicólogo, é porque aquilo de que ela quer tratar lhe é caro.
Uma pessoa não pede para estar em crise. Mas por outro lado, não tem jeito, a crise, o sofrimento, faz parte da vida do ser humano. “As crises acidentais podem ocorrer em qualquer idade da vida, por exemplo, perda de status e respeito, acidente, intervenção cirúrgica, doença mental ou alcoolismo, uma deficiência física, uma gravidez não desejada, separação matrimonial, etc.” (CLINEBELL, 1998, p. 182)[4].
A escuta por parte do padre é fundamental. É preciso se colocar numa atitude de quem está interessado na questão. Atenção total, nada pode atrapalhar a conversa, muito menos o padre ficar distraído lendo algo ou mexendo no computador. A pessoa que está sendo acompanhada pelo padre, “lhe confia pensamentos, intenções, sentimentos... que a ninguém mais comunica. E espera ajuda” (MIRANDA, 2010, p. 85)[5]. Se o sofrimento é um “lugar teológico”, mais do que sair do sofrimento, a pessoa, consciente ou não, está buscando a Deus, seu criador. Buscar o sagrado é buscar um sentido para a vida.
O padre deve o máximo estar atento à realidade do mundo. Há cinquenta anos atrás, o Concílio Vaticano II já alertava sobre a realidade. “É necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático” (GS 4)[6]. Com isso, é percebível que as pessoas hoje demonstram mais suas crises, e em alguns casos chegam até a se acomodarem com elas. De fato, existem crises prolongadas e crises que são temporárias. As fáceis e as difíceis de resolverem, bem como as etapas da crise em que a pessoa se encontra. O padre será o apoio, o instrumento para ajudar a pessoa a sair do estado em que se encontra.  
São várias as pessoas que estão com a vida emocional abalada e que, muitas vezes, não percebem o que está causando crise, ou aliás, não sabem o porquê daquela crise. O padre ou o psicólogo deve ser uma pessoa preparada e com suas questões resolvidas para poder ajudar os outros. O padre deve ser o homem do conhecimento, da prática e da espiritualidade. Muitos são aqueles que procuram o padre para aconselhamento sobre a separação do casamento ou porque alguém na família está doente.


O padre, numa atividade pastoral em uma determinada paróquia, deve ter presente que “o confronto do ser humano com o sofrimento é inevitável, de que o homem é um ser que, cedo ou tarde, deve encarar a morte e que, antes de fazê-lo, deve sofrer” (FRANKL, 2011, p. 93)[7]. É de suma importância que o servo de Deus se coloque a disposição para acompanhar as pessoas, as famílias, principalmente aquelas que têm um membro com doença terminal. A presença do padre em situações como estas, pode favorecer ao doente e à família uma consciência que sofrimento possibilita um encontro com Deus. Em alguns casos se verifica que não precisa de muitas palavras, mas da presença silenciosa e orante.
Hoje, mais do nunca, o padre como homem de Deus precisa se capacitar intelectualmente para dar respostas, não só às questões espirituais – teologia – mas, às questões humanas – antropológico-psicológico –. “A formação intelectual dos candidatos ao sacerdócio encontra a sua específica justificação na própria natureza do ministério ordenado e manifesta a sua urgência atual de fronte ao desafio da ‘nova evangelização’” (PDV 51)[8]. Outro desafio para os padres de hoje, não é só a formação, mas ir ao encontro das pessoas e/ou estar aberto para que as pessoas os procurem. O aconselhamento, o direcionamento, ou a pastoral do acompanhamento espiritual devem ser realizados a semelhança de Cristo Bom Pastor, que estava sempre disposto a cumprir a missão que o Pai lhe confiou. “Jesus demonstra muito bem como nos encontros filiais o cumprimento da vontade do Pai desempenha um papel essencial: o meu alimento é fazer a vontade daquele que mim enviou” (Jo 4,34 CNBB)[9], (GALOT, 1998, p.117)[10].
No caso de paciente em estado terminal, se o padre está preparado, pode favorecer que tanto o doente como a família passe por esse momento tão doloroso com mais facilidade e sem muitas feridas. Um doente terminal, quando recebe o diagnóstico, entra em crise instantaneamente. Chega a ter casos de muitas famílias não revelarem o problema ao enfermo, justamente para que o problema não se agrave mais, haja vista a sua fragilidade emocional. É possível que o paciente enfrente alguns estágios antes de morrer. Elisabeth Kubler-Ross (2000)[11] fala de cinco estágios. O primeiro é a negação do diagnóstico. O segundo estágio se caracteriza pelo sentimento de raiva ou revolta, ele se revolta contra todos que vivem a sua volta, chegando a se questionar o porquê de acontecer isso com ele. O terceiro estágio se dá quando o paciente começa a ter consciência do seu estado e tenta negociar; é o que Kubler-Ross denominava de barganha. No quarto momento se apresenta a depressão, em que se perde o sentido de viver e se começa a desejar profundamente a morte. Aqui entra o desafio para o aconselhador: como fazer com que neste momento da vida, o paciente tenha um olhar diferente para a sua situação? Como levá-lo a descobrir o sentido do sofrimento, pois “o sentido do sofrimento – do inevitável e inescapável sofrimento em si, obviamente – constitui o mais profundo sentido possível” (FRANKL, 2011, p. 97). O quinto momento é o estágio da aceitação, mas para isso devem estar superadas todas as fases anteriores.
A presença do padre ou do leigo deve ser uma presença e ao mesmo tempo um acompanhamento espiritual na vida tanto da família como do enfermo. É mister favorecer que eles tenham e sintam a presença de Deus. Pois mesmo nestas situações, “todo ser humano merece ser acompanhado e ajudado a encontrar a ‘direção’ de sua vida para o Criador” (MIRANDA, 2010, p. 135).
A morte precisa ser encarada com realismo, mesmo que o medo apareça e tome conta dos sentimentos da pessoa. Só morre aquilo que experimentou a vida. “O homem morre, como qualquer outra forma de vida, mas é o animal que sabe e pode prever a própria morte” (MAY, 2010, p. 237)[12]. Ora, o homem não foi feito para a morte, mas para a vida, e em Cristo, para a vida eterna. Neste sentido, a morte precisa ter um sentido teológico, como sentido último que é Deus mesmo. A fé é um dado importante para aqueles que estão no sofrimento, pois “Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16 CNBB). A fé em Deus pode ser um suporte para superar o sofrimento. No aconselhamento pastoral ou na direção espiritual, o padre ou o leigo, deve levar o acompanhando a ter uma experiência de Deus. No dizer de Miranda (2010, p. 178) “a experiência com Deus estrutura o homem”. Esta é também a nossa fé.
Não é fácil acompanhar um enfermo em estado terminal. Logo, neste caso, o amor é a base para ir até o fim. Não esquecendo que Deus pode realizar também um milagre, o acompanhamento deve ser realizado em profunda sinceridade e caridade. O sofrimento de Cristo não foi pura e simplesmente um sofrimento humano na carne, mas na carne manifestou amor pleno pelo homem para que o homem pudesse plenamente ser salvo do pecado e da morte (cf. 2Cor 8,9). O amor é a porta da salvação. É o amor da família, o amor dos amigos, o amor do pastor daquela ovelha ferida que fará com que o enfermo terminal encontre a si mesmo e se encontre com o seu criador. “As palavras da oração de Cristo no Getsêmani provam a verdade do amor mediante a verdade do sofrimento” (SD 18).
REFERÊNCIAS


[1] Tentarei fazer um trabalho indicando como o padre pode atuar no Acompanhamento Pastoral numa determinada Paróquia.
[2] JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Salvifici Doloris, Sobre o sentido cristão do sofrimento humano. São Paulo: Paulinas, 1998.
[3] CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, Sobre o ministério e a vida dos sacerdotes. São Paulo: Paulus, 1997.
[4] CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. São Paulo/São Leopoldo: Paulus/Sinodal, 1998.
[5] MIRANDA, Tomás Rodríguez, sj. A direção espiritual: pastoral do acompanhamento espiritual. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2010.
[6] CONC. ECUM. VAT. II, Constituição Pastoral, Gaudium et spes, Sobre a Igreja no mundo atual. 12. ed. São Paulo: Paulinas, 2002.
[7] FRANKL, Viktor E. A vontade de sentido: Fundamentações e aplicações da logoterapia. São Paulo: Paulus, 2011.
[8] JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis. São Paulo: Paulinas, 2009.
[9] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Bíblia Sagrada. Brasília: CNBB, [s.d.].
[10] GALOT, Jean. Dio Padre, chi sei? Breve catechesi su Dio. Milano: San Paolo, 1998.
[11] KÜBLER-ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins fontes, 2000.
[12] MAY, Rolo. O homem à procura de si mesmo. 35. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

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