HISTÓRIA DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA[1]
A Igreja, ao longo de sua história, tem presenciado
o surgimento de muitos "despertares" e movimentos de “renovação”.
Como observa o conceituado teólogo Heribert Mühlen, em muitos deles “irrompe
assim, novamente, a vitalidade pentecostal da Igreja, e isso de um modo nunca
previsto”.
O "século da Igreja", como foi muitas
vezes definido o século XX, já se iniciará sob o signo de uma necessidade: o
desejo da presença criadora e libertadora do Espírito.
Em 9 de maio de 1897, o Papa Leão XIII publicou a
Encíclica Divinum Illud Munus, sobre o Espírito Santo, "lamentando que o
Espírito Santo fosse pouco conhecido e apreciado, concita o povo a uma devoção
ao Espírito". A leitura, os sermões e livros sobre este documento
influenciarão muitas pessoas, estimulando também um número importante de
estudos sobre o papel do Espírito Santo na Igreja.
Passadas algumas décadas e convocado solenemente no
dia 25 de dezembro de 1961, através da Constituição Apostólica Humanae Salutis,
a vida da Igreja contemporânea ficará profundamente marcada pelo Concílio
Vaticano II (1962-1965).
"renovar a vida da Igreja e dos batizados a
partir de um retorno às origens cristãs".
Para seu promotor, o Papa João XXIII, o Concílio
deveria ser uma "abertura de janelas" para que um "ar novo e
fresco" renovasse a Igreja.
Na perspectiva do Cardeal Suenens, João XXIII estava
consciente de que a Igreja necessitava de um novo pentecostes e acrescenta:
“Agora, olhando para trás, podemos dizer que o concílio, indicando a sua fé no
carisma, fez um gesto profético e preparou os cristãos para acolher a Renovação
Carismática que está se espalhando por todos os cinco continentes”.
A Renovação Carismática apareceu na Igreja Católica
no momento em que se começava a procurar caminhos para pôr em prática a
renovação da Igreja, desejada, ordenada e inaugurada pelo Concílio Vaticano II.
Não se havia passado um ano sequer ao término do
Concílio, quando em 1966 começou a despontar o fenômeno religioso chamado agora
Renovação Carismática.
Não sendo, pois, um acontecimento isolado, podemos
localizar a Renovação Carismática como um dos desdobramentos da evolução da
espiritualidade pós-conciliar.
O nascimento da Renovação Carismática Católica.
A Renovação Carismática Católica, ou o
Pentecostalismo Católico, como foi inicialmente conhecida, teve origem com um
retiro espiritual realizado nos dias 17-19 de fevereiro de 1967, na
Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA).
Em uma carta enviada dois meses após (29 de abril de
1967), a um professor, Monsenhor Iacovantuno, Patti Gallagher, uma das
estudantes que participou do retiro, assim relatou o que aconteceu naqueles
dias:
Tivemos um Fim de Semana de Estudos nos dias 17-19
de fevereiro. Preparamo-nos para este encontro, lemos os Atos dos Apóstolos e
um livrinho intitulado "A Cruz e o Punhal" de autoria de David
Wilkerson. Eu fiquei particularmente impressionada pelo conhecimento do poder
do Espírito Santo e, pelo vigor e a coragem com que os apóstolos foram capazes
de espalhar a Boa Nova, após o Pentecostes. Eu supunha, naturalmente, que o Fim
de Semana me seria proveitoso, mas devo admitir que nunca poderia supor que
viria a transformar a minha vida!...
Estas notícias se divulgaram rapidamente, causando
um grande impacto no meio religioso universitário. O “Fim de Semana de
Duquesne”, como ficou mundialmente conhecido este retiro, tem sido geralmente
aceito como o ponto de partida que deu origem à Renovação Carismática Católica,
cuja abrangência estender-se-á, num curto período de tempo, por um grande
número de países.
A experiência inicial vivida nestas universidades,
caracterizada por um reavivamento espiritual por meio da oração, da vida nova
no Espírito, com a manifestação dos seus dons, tomará corpo, transpondo
rapidamente o ambiente onde foi originada.
Através das reuniões, seminários e encontros, em
breve, aparecerão grupos de oração noutras universidades, paróquias, mosteiros,
conventos, etc. Os testemunhos multiplicam-se, vindos dos mais variados grupos
de pessoas: operários, ex-presidiários, professores, religiosos das mais
diversas ordens.
Kevin e Dorothy Ranaghan ainda registram um aspecto
pouco divulgado desta história inicial da Renovação Carismática:
Nossa suspeita de que essa experiência de renovação,
que agora estava espalhada, não era nova para os católicos americanos, foi
confirmada, quando ouvimos notícias ou recebemos cartas de pessoas ou grupos de
católicos ao redor do país. Da Flórida, Califórnia, Texas, Wisconsin,
Massachusetts, tivemos notícias do trabalho calmo do Espírito Santo no decorrer
dos anos.
Como afirma Monique Hébrard, a Renovação Carismática
“explodiu quase ao mesmo tempo em todos os cantos da terra e em todas as
igrejas cristãs, sem que se saiba muito bem como é que o fogo se ateou”.
Para o Cardeal Suenens isto também despertou uma
curiosidade, ou seja, “sem nenhum contato entre si, parece que o Espírito Santo
suscitou em vários lugares do mundo experiências que, se não são iguais,
certamente são semelhantes”.
A expansão da Renovação Carismática
Católica
O fato de muitos canadenses estudarem em Notre Dame
e outras universidades da Região dos Lagos, fez com que a Renovação Carismática
fosse levada ao Canadá também em 1967, conhecendo aí um rápido crescimento.
Já em 1968 foi realizado nos EUA o primeiro
congresso nacional, com 100 participantes; em 1969, 300; em 1970, 1.300; em
junho de 1971, 5.000 e em 1972, 12.000.
Em 1973, aconteceu o primeiro congresso
internacional em South-Bend, Indiana, contando com 25.000 participantes e outro
em Roma, com 120 líderes de 34 países; em 1974, o segundo Congresso
Internacional, em South Bend, reuniu 30.000 participantes vindos de 35 países,
estando presentes 700 padres e 15 bispos. Em Roma houve, em 1974, um segundo
Congresso, com 220 líderes, vindos de 50 diferentes países. Foi uma preparação
para o terceiro Congresso Internacional, realizado de 16 a 19 de maio de 1975,
que reuniu 10.000 participantes provenientes de 54 países.
Entre os anos de 1970 – 80 a Renovação já estava presente
em outros países de língua inglesa (Inglaterra, 1970-71; Austrália, 1970; Nova
Zelândia, 1971) bem como da Europa Ocidental (França 1971-72; Bélgica, 1972;
Alemanha, 1972; Itália, 1973; Espanha 1973-74; Portugal, 1974). Na Europa
Oriental, a Renovação chegou apenas na Polônia (1976-77), já na América Latina,
na maioria dos países, ela chegou entre 1970-74, quando também apareceu em
países da Ásia, como Coréia (1971) e Índia (1972). Foi durante esta década que
apareceram muitas comunidades carismáticas. Os países onde elas inicialmente
floresceram foram os Estados Unidos, França e Austrália. Delas as mais
influentes foram: Word of God, Ann Harbor, Michigan (EUA); People of Praise,
South Bend, Indiana (EUA); Aleluia, Augusta, Geórgia (EUA); Emmanuel, Brisbane
(Austrália); Emmanuel, Paris (França); Chemim Neuf, Lyon (França); e Leão de
Judá (mais tarde chamada de Beatitudes), Cordes (França). Essas comunidades
tornaram-se responsáveis por organizarem muitos dos serviços da Renovação, tais
como retiros, congressos e revistas de divulgação, onde destacam-se: a New
Covenant (EUA), Il Est Vivant (França) e Feu et Lumière (França).
Entre 1980-90 a Renovação Carismática ampliará suas
relações com a hierarquia, durante este período haverá um esforço de aproximação
entre os diversos países e a consolidação de organizações nacionais e
internacionais.
Na década seguinte, marcada pela mudança de regime
político do leste europeu, surgiram muitos grupos de oração nos países que
compunham a antiga União Soviética. Também na África, Ásia e América Latina,
muitos países têm registrado um crescimento da Renovação. Filipinas, Brasil e
México estão entre os países com o maior número de participantes e grupos de
oração.
Em média hoje, a rcc representa 11,3% do total de
católicos batizados.
Como podemos constatar, trata-se de um crescimento
que não passa despercebido, a Renovação é sem dúvida um dos maiores
acontecimentos religiosos da atualidade.
Desde o princípio, os integrantes da Renovação, para
melhor promover suas atividades, sentiram a necessidade de organizarem-se,
contando para isto com equipes de âmbito local, regional, nacional e
internacional. Essas equipes têm como função promover uma articulação entre
suas coordenações e garantir sua unidade.
O Grupo de Oração é a base da estrutura da Renovação
Carismática. Organizados geralmente nas paróquias e liderados por leigos, eles
são formados por um número variado de pessoas, em reuniões que acontecem
semanalmente.
Assim, a Renovação criou uma organização interna que
lhe dá um elevado grau de maleabilidade: por um lado, cada grupo de oração goza
de grande autonomia, podendo realizar suas reuniões conforme as necessidades
específicas de seus membros; por outro, as equipes de coordenação, atuando por
meio das atividades auxiliares, garantem à Renovação Carismática uma linha
comum.
Em 14 de setembro de 1993, através do Pontifício
Conselho para os Leigos foi expedido o decreto de reconhecimento do ICCRS. Do
ano de 1994 até 2000, o ICCRS foi presidido por Charles Whitehead (Inglaterra)
e a partir de 2000 tem à sua frente Allan Panozza (Austrália).
O ICCRS reúne seus membros com frequência para
discutir e planejar a Renovação em âmbito mundial. Realiza retiros e encontros
internacionais, mantém um site na internet e publica o "Boletim do
ICCRS", com notícias e material de formação em inglês, francês, italiano,
espanhol e português.
Outra organização internacional importante é a
CFCCCF ("Catholic Fraternity of Charismatic Covenant Communities and
Fellowships" - Fraternidade Católica das Comunidades de Aliança e Vida).
Composta por mais de 50 comunidades espalhadas pelo mundo, teve em novembro de
1990, seus Estatutos reconhecidos pelo Pontifício Conselho para os Leigos.
Na América Latina, sediado atualmente na cidade do México,
há o CONCCLAT (Conselho Carismático Católico Latino Americano), um organismo
continental criado em 1972.
É necessário partir do querigma.[2]
J P II diz: Carismático para o bem de toda a Igreja
– vida longa aos carismáticos. Desejo que a espiritualidade de Pentecostes se
difunda na Igreja como compromisso renovado de oração de santidade, de comunhão
e anúncio.
A experiência do Batismo no Espirito é uma
experiência de amor pelas escrituras, pela eucaristia, pela evangelização, por
Maria. É um modelo de vida que chama à conversão e à santidade.
O Espírito Santo renova a Palavra, os Sacramentos
criados por Jesus. Não faz coisas novas, mas nova as coisas.
A nova Lei é a ação do Espírito Santo em Pentecostes.
Rm 8,1-2.
Ives Congar – a corrente carismática, conhecida como
Renovação no Espírito é difusa como fogo entre palhas, bem mais que um fogo de
palha... é um movimento que, como no passado, muda as vidas das pessoas no seio
da Igreja.
Os leigos são a energia nuclear da Igreja. Anunciar!