terça-feira, 30 de julho de 2013

Como a Renovação Carismática Surgiu

HISTÓRIA DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA[1]


A Igreja, ao longo de sua história, tem presenciado o surgimento de muitos "despertares" e movimentos de “renovação”. Como observa o conceituado teólogo Heribert Mühlen, em muitos deles “irrompe assim, novamente, a vitalidade pentecostal da Igreja, e isso de um modo nunca previsto”.
O "século da Igreja", como foi muitas vezes definido o século XX, já se iniciará sob o signo de uma necessidade: o desejo da presença criadora e libertadora do Espírito.
Em 9 de maio de 1897, o Papa Leão XIII publicou a Encíclica Divinum Illud Munus, sobre o Espírito Santo, "lamentando que o Espírito Santo fosse pouco conhecido e apreciado, concita o povo a uma devoção ao Espírito". A leitura, os sermões e livros sobre este documento influenciarão muitas pessoas, estimulando também um número importante de estudos sobre o papel do Espírito Santo na Igreja.
Passadas algumas décadas e convocado solenemente no dia 25 de dezembro de 1961, através da Constituição Apostólica Humanae Salutis, a vida da Igreja contemporânea ficará profundamente marcada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).
"renovar a vida da Igreja e dos batizados a partir de um retorno às origens cristãs".
Para seu promotor, o Papa João XXIII, o Concílio deveria ser uma "abertura de janelas" para que um "ar novo e fresco" renovasse a Igreja.
Na perspectiva do Cardeal Suenens, João XXIII estava consciente de que a Igreja necessitava de um novo pentecostes e acrescenta: “Agora, olhando para trás, podemos dizer que o concílio, indicando a sua fé no carisma, fez um gesto profético e preparou os cristãos para acolher a Renovação Carismática que está se espalhando por todos os cinco continentes”.
A Renovação Carismática apareceu na Igreja Católica no momento em que se começava a procurar caminhos para pôr em prática a renovação da Igreja, desejada, ordenada e inaugurada pelo Concílio Vaticano II.
Não se havia passado um ano sequer ao término do Concílio, quando em 1966 começou a despontar o fenômeno religioso chamado agora Renovação Carismática.
Não sendo, pois, um acontecimento isolado, podemos localizar a Renovação Carismática como um dos desdobramentos da evolução da espiritualidade pós-conciliar.

O nascimento da Renovação Carismática Católica.
A Renovação Carismática Católica, ou o Pentecostalismo Católico, como foi inicialmente conhecida, teve origem com um retiro espiritual realizado nos dias 17-19 de fevereiro de 1967, na Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA).
Em uma carta enviada dois meses após (29 de abril de 1967), a um professor, Monsenhor Iacovantuno, Patti Gallagher, uma das estudantes que participou do retiro, assim relatou o que aconteceu naqueles dias:
Tivemos um Fim de Semana de Estudos nos dias 17-19 de fevereiro. Preparamo-nos para este encontro, lemos os Atos dos Apóstolos e um livrinho intitulado "A Cruz e o Punhal" de autoria de David Wilkerson. Eu fiquei particularmente impressionada pelo conhecimento do poder do Espírito Santo e, pelo vigor e a coragem com que os apóstolos foram capazes de espalhar a Boa Nova, após o Pentecostes. Eu supunha, naturalmente, que o Fim de Semana me seria proveitoso, mas devo admitir que nunca poderia supor que viria a transformar a minha vida!...
Estas notícias se divulgaram rapidamente, causando um grande impacto no meio religioso universitário. O “Fim de Semana de Duquesne”, como ficou mundialmente conhecido este retiro, tem sido geralmente aceito como o ponto de partida que deu origem à Renovação Carismática Católica, cuja abrangência estender-se-á, num curto período de tempo, por um grande número de países.
A experiência inicial vivida nestas universidades, caracterizada por um reavivamento espiritual por meio da oração, da vida nova no Espírito, com a manifestação dos seus dons, tomará corpo, transpondo rapidamente o ambiente onde foi originada.
Através das reuniões, seminários e encontros, em breve, aparecerão grupos de oração noutras universidades, paróquias, mosteiros, conventos, etc. Os testemunhos multiplicam-se, vindos dos mais variados grupos de pessoas: operários, ex-presidiários, professores, religiosos das mais diversas ordens.
Kevin e Dorothy Ranaghan ainda registram um aspecto pouco divulgado desta história inicial da Renovação Carismática:
Nossa suspeita de que essa experiência de renovação, que agora estava espalhada, não era nova para os católicos americanos, foi confirmada, quando ouvimos notícias ou recebemos cartas de pessoas ou grupos de católicos ao redor do país. Da Flórida, Califórnia, Texas, Wisconsin, Massachusetts, tivemos notícias do trabalho calmo do Espírito Santo no decorrer dos anos.
Como afirma Monique Hébrard, a Renovação Carismática “explodiu quase ao mesmo tempo em todos os cantos da terra e em todas as igrejas cristãs, sem que se saiba muito bem como é que o fogo se ateou”.
Para o Cardeal Suenens isto também despertou uma curiosidade, ou seja, “sem nenhum contato entre si, parece que o Espírito Santo suscitou em vários lugares do mundo experiências que, se não são iguais, certamente são semelhantes”.

A expansão da Renovação Carismática Católica
O fato de muitos canadenses estudarem em Notre Dame e outras universidades da Região dos Lagos, fez com que a Renovação Carismática fosse levada ao Canadá também em 1967, conhecendo aí um rápido crescimento.
Já em 1968 foi realizado nos EUA o primeiro congresso nacional, com 100 participantes; em 1969, 300; em 1970, 1.300; em junho de 1971, 5.000 e em 1972, 12.000.
Em 1973, aconteceu o primeiro congresso internacional em South-Bend, Indiana, contando com 25.000 participantes e outro em Roma, com 120 líderes de 34 países; em 1974, o segundo Congresso Internacional, em South Bend, reuniu 30.000 participantes vindos de 35 países, estando presentes 700 padres e 15 bispos. Em Roma houve, em 1974, um segundo Congresso, com 220 líderes, vindos de 50 diferentes países. Foi uma preparação para o terceiro Congresso Internacional, realizado de 16 a 19 de maio de 1975, que reuniu 10.000 participantes provenientes de 54 países.
Entre os anos de 1970 – 80 a Renovação já estava presente em outros países de língua inglesa (Inglaterra, 1970-71; Austrália, 1970; Nova Zelândia, 1971) bem como da Europa Ocidental (França 1971-72; Bélgica, 1972; Alemanha, 1972; Itália, 1973; Espanha 1973-74; Portugal, 1974). Na Europa Oriental, a Renovação chegou apenas na Polônia (1976-77), já na América Latina, na maioria dos países, ela chegou entre 1970-74, quando também apareceu em países da Ásia, como Coréia (1971) e Índia (1972). Foi durante esta década que apareceram muitas comunidades carismáticas. Os países onde elas inicialmente floresceram foram os Estados Unidos, França e Austrália. Delas as mais influentes foram: Word of God, Ann Harbor, Michigan (EUA); People of Praise, South Bend, Indiana (EUA); Aleluia, Augusta, Geórgia (EUA); Emmanuel, Brisbane (Austrália); Emmanuel, Paris (França); Chemim Neuf, Lyon (França); e Leão de Judá (mais tarde chamada de Beatitudes), Cordes (França). Essas comunidades tornaram-se responsáveis por organizarem muitos dos serviços da Renovação, tais como retiros, congressos e revistas de divulgação, onde destacam-se: a New Covenant (EUA), Il Est Vivant (França) e Feu et Lumière (França).
Entre 1980-90 a Renovação Carismática ampliará suas relações com a hierarquia, durante este período haverá um esforço de aproximação entre os diversos países e a consolidação de organizações nacionais e internacionais.
Na década seguinte, marcada pela mudança de regime político do leste europeu, surgiram muitos grupos de oração nos países que compunham a antiga União Soviética. Também na África, Ásia e América Latina, muitos países têm registrado um crescimento da Renovação. Filipinas, Brasil e México estão entre os países com o maior número de participantes e grupos de oração.
Em média hoje, a rcc representa 11,3% do total de católicos batizados.
Como podemos constatar, trata-se de um crescimento que não passa despercebido, a Renovação é sem dúvida um dos maiores acontecimentos religiosos da atualidade.

Desde o princípio, os integrantes da Renovação, para melhor promover suas atividades, sentiram a necessidade de organizarem-se, contando para isto com equipes de âmbito local, regional, nacional e internacional. Essas equipes têm como função promover uma articulação entre suas coordenações e garantir sua unidade.
O Grupo de Oração é a base da estrutura da Renovação Carismática. Organizados geralmente nas paróquias e liderados por leigos, eles são formados por um número variado de pessoas, em reuniões que acontecem semanalmente.
Assim, a Renovação criou uma organização interna que lhe dá um elevado grau de maleabilidade: por um lado, cada grupo de oração goza de grande autonomia, podendo realizar suas reuniões conforme as necessidades específicas de seus membros; por outro, as equipes de coordenação, atuando por meio das atividades auxiliares, garantem à Renovação Carismática uma linha comum.
Em 14 de setembro de 1993, através do Pontifício Conselho para os Leigos foi expedido o decreto de reconhecimento do ICCRS. Do ano de 1994 até 2000, o ICCRS foi presidido por Charles Whitehead (Inglaterra) e a partir de 2000 tem à sua frente Allan Panozza (Austrália).
O ICCRS reúne seus membros com frequência para discutir e planejar a Renovação em âmbito mundial. Realiza retiros e encontros internacionais, mantém um site na internet e publica o "Boletim do ICCRS", com notícias e material de formação em inglês, francês, italiano, espanhol e português.
Outra organização internacional importante é a CFCCCF ("Catholic Fraternity of Charismatic Covenant Communities and Fellowships" - Fraternidade Católica das Comunidades de Aliança e Vida). Composta por mais de 50 comunidades espalhadas pelo mundo, teve em novembro de 1990, seus Estatutos reconhecidos pelo Pontifício Conselho para os Leigos.
Na América Latina, sediado atualmente na cidade do México, há o CONCCLAT (Conselho Carismático Católico Latino Americano), um organismo continental criado em 1972.


É necessário partir do querigma.[2]
J P II diz: Carismático para o bem de toda a Igreja – vida longa aos carismáticos. Desejo que a espiritualidade de Pentecostes se difunda na Igreja como compromisso renovado de oração de santidade, de comunhão e anúncio.
A experiência do Batismo no Espirito é uma experiência de amor pelas escrituras, pela eucaristia, pela evangelização, por Maria. É um modelo de vida que chama à conversão e à santidade.
O Espírito Santo renova a Palavra, os Sacramentos criados por Jesus. Não faz coisas novas, mas nova as coisas.
A nova Lei é a ação do Espírito Santo em Pentecostes. Rm 8,1-2.
Ives Congar – a corrente carismática, conhecida como Renovação no Espírito é difusa como fogo entre palhas, bem mais que um fogo de palha... é um movimento que, como no passado, muda as vidas das pessoas no seio da Igreja.
Os leigos são a energia nuclear da Igreja. Anunciar!



[1] Uma parte deste resumo foi extraída do Site: RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA. <http://www.rccbrasil.org.br/interna.php?paginas=42>. Acesso em: 13/06/13.
[2] Esta parte final é uma síntese da segunda Reflexão de Padre Raniero Cantalamessa ao Papa Bento XVI, no Advento de 2012.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Dimensões Sistemáticas da Iniciação Cristã

AS DIMENSÕES SISTEMÁTICAS DA INICIAÇÃO CRISTÃ: Cristológico-trinitária, Eclesiológica, Pneumatológico-escatólogica e Antropológica



Dimensão Cristológico-trinitária, Cristo é a expressão da trindade: imagem humana da Trindade: quem me viu, viu o Pai. OS SACRAMENTOS EXISTEM POR VONTADE DE CRISTO. Os sacramentos inserem-nos no mistério de Cristo. Somos com Cristo. A vida inteira do cristão está sob a graça de Deus em Cristo. Antes de toda ética, moral, legalidade, o cristão é filho de Deus, movido pelo Espírito Santo e iluminado pela Palavra.

Dimensão Eclesiológica. A salvação na Igreja e pela Igreja. É preciso compreender a grande diferença: discípulo de Cristo e a Instituição. É preciso converter, fazer-se batizado e receber o dom do Espírito Santo. A vida do cristão se dá na comunidade Eclesial. Pelo batismo e pela confirmação, o homem começa a fazer parte, a ser membro da comunidade dos salvos, de tal modo que possa, a partir daí, participar do dinamismo dessa comunidade, especialmente de forma central na eucaristia. Existe uma relação entre a salvação de Cristo na Igreja. O homem é salvo por Cristo na Igreja, por meio da Igreja. Sentido de Igreja: à maneira de um sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano. Igreja comunhão com a Trindade. Igreja enviada como missão. Quando se fala de sacramento da fé, se trata da fé da Igreja. A fé da Igreja constitui os sacramentos. O efeito do sacramento da Iniciação é a configuração com Cristo.

Dimensão Pneumatológico-escatológica. As dimensões cristológica e eclesiológica entrelaçam. É o mistério de Cristo que possibilita a efusão do Espírito Santo. A Igreja é a comunidade onde a realidade escatológica está presente e operante, no mistério. O Espírito Santo é o dom fundamental dado à Igreja e a cada um dos cristãos. É a caridade de Deus que move o homem cristão a viver segundo Cristo.

Dimensão Antropológica. O batismo-confirmação, sacramento da fé. O batismo é o sacramento da encarnação do quérigma. Uma coisa é a fé que se experimenta e outra a ação da fé na pessoa. A relação entre fé e batismo é constante. Pelo batismo, o homem se integra à comunidade de fé.

A Igreja e a tecnologia da comunicação

Aula sobre: Igreja e a tecnologia da comunicação


Tudo que é novidade assusta, pelo menos no início. Foi assim com o surgimento das comunicações tecnológicas. A Igreja tinha uma visão negativa da tecnologia da comunicação. Ela pedia muito cuidado aos seus fieis que iam ao cinema, chegando até a proibi-los, como cita o Documento Vigilanti cura de Pio XI. A imagem era uma novidade que assustava e o cinema era visto como imoral.
Pio XII na Miranda prorsus faz uma síntese sobre o que a Igreja pensa da comunicação. Cinema, rádio, televisão: a comunicação era vista como algo obscuro e incerto, causava medo no que se refere aos aspectos morais.
O Documento Inter mírifica do Concílio Vaticano II, trás a primeira orientação para o clero, as obrigações e os direitos. É o documento mais importante da Igreja neste aspecto das comunicações.
A Communio et progressio de 1990, não é especificamente sobre a comunicação. Mas fala dos novos areópagos modernos e de uma nova cultura.

Aetatis novae, a Igreja que permanece silenciosa de 1971 a 1992. A comunicação passa da era analógica para a digital. É nesse momento que se fala da necessidade da pastoral da e na comunicação, Pascom.
O último documento apresentado pelo professor foi Igreja e internet, tempo da convergência midiática. União de várias mídias numa só. Surge a palavra interatividade, ou seja, não existe espaço para a comunicação. Cada vez mais o contato virtual substituindo o contato humano direto.

Pela tarde o professor cursou sobre Rádio, como surgiu e as técnicas de trabalho. No início o rádio era ao vivo e acontecia num auditório. Na década de trinta o radio passa a ter músicas populares. O rádio aos poucos vai crescendo, surge na década de trinta a “voz do Brasil”. Era um tempo também que ninguém ganhava dinheiro, tudo era feito pela arte. Surge na década de sessenta a rádio FM na frequência modulada. Na década de 80 o rádio passa a assumir um caráter informativo. Cabe lembrar que muitos artistas saíram do rádio para a televisão brasileira.

A rádio exige uma linguagem nítida. Hoje não basta ter mais uma voz de qualidade, mas ter capacidade de comunicar e se expressar bem e numa linguagem simples. Quem escuta a rádio, na sua maioria, são pessoas simples. O texto radiofônico não é feito para ser lido pelo ouvinte, é feito para ser ouvido; deve ser objetivo e conciso, pois o texto será lido uma única vez pelo radialista. A aula terminou com uma técnica de comunicação. Respiração serena, dicção perfeita, articulando bem as palavras. Tudo para um nível de comunicação excelente.


domingo, 28 de julho de 2013

Dom do Temor de Deus

Dom do Temor de Deus

O Espírito Santo é Aquele que nos ajuda no processo de santidade. Ao Espírito Santo mesmo não podemos vê-l’O, mas podemos ver a sua manifestação em nossas vidas. Cristo o chama de Paráclito, que significa Advogado, Defensor, Conselheiro. Ele é o Espírito da Verdade que o Pai envia para nós a pedido de Jesus Cristo (Jo 14, 15-31).
O Temor de Deus é um dom do Espírito Santo que nos é dado para uma relação filial e, ao mesmo tempo, nos leva a uma aproximação amorosa com Deus. Por esse dom, tomamos consciência do que é o pecado e, livremente, procuramos evita-lo. O temor de Deus é diferente do medo de Deus. O medo nunca é saudável, ao contrário, pode levar à doença: fobia de Deus. Por isso não podemos dizer nuca para uma criança que Deus castiga, Deus briga. Temor em alguns casos pode até significar medo, de fato. Mas sempre que colocado para Deus, significa reverência, respeito. É saber que Deus é grande infinitamente, um Deus tão grande a ponto de ser misericordioso, amoroso. O dom do temor não afasta o homem de Deus, mas leva-o a buscá-lo de coração sincero. Em Dt 5,29 diz: “Oxalá o seu coração fosse sempre assim, para temer-me e observar continuamente todos os meus mandamentos”. Parece que o AT coloca o Temor de Deus em relação à retribuição: “tema a Deus e serás sábio, tema a Deus e serás feliz”. Mas não é bem assim, a sabedoria, a felicidade, o coração puro deve sempre ser consequência natural da vivencia e da prática de um dom. Ou seja, eu não posso temer o Senhor só para conseguir algo na minha vida de que necessito. Não! Se assim for, será uma troca, um escâmbio da fé! Deus não tem nenhum produto a venda muito menos em troca! A religião não pode se tornar um supermercado onde eu vou e compro o que eu desejo de bom. Vemos no Ecle 12,13 a seguinte passagem: “de tudo o que se ouviu o resumo é este: Tema a Deus e observe seus mandamentos, porque esse é o dever de todo homem”. Aqui cabe uma reflexão sobre o homem. O ser humano pós-moderno está perdido, sem rumo, sem norte, sem um porto seguro. E por que de tudo isso? Não precisa fazer uma análise da realidade para podermos abordar este tema. Os paradigmas estão caindo! Há quem diga que as grandes instituições estão em crise: a família-pai e mãe, a Igreja-clero, a escola-corpo docente, a política... e assim vai. A mensagem da “primeira evangelização” está caindo no esquecimento! E os que ouvem hoje não dão tanta importância ao Anúncio! Um exemplo que o Querigma (o Anúncio do Evangelho) hoje não tem tanta aceitação é comprovado pelo que o nosso bispo, dom Ottorino falou-nos na missa do DNJ em Santa Luz: “onde estão os mais de 10,000 jovens que eu crismei”?, perguntava o bispo. Que lugar Deus está ocupando na minha vida? Parece que em nossos corações existe uma seca de Deus. Como superar essa seca de Deus? O Documento de Aparecida nos fala muito bem. Devemos começar, quem já conhecem Cristo, como discípulos missionários do Mestre. Fazer mesmo a experiência de Deus e com Deus! E será o Espírito Santo quem irá nos mover. E para os anunciadores, os discípulos missionários que já tiveram um experiência profunda, devem sair das estruturas caducas. Das paredes descascadas pelo tempo, dos salões desaconchegados, e ir ao encontro, tanto da ovelha perdida, como daqueles que ainda não fazem parte do rebanho do Senhor. O temor do Senhor deve nos levar a fazer uma experiência única com Deus. O mundo hoje ou será místico ou não será nada. Aliás, o teólogo Karl Rahner diz que “o cristão do futuro será um místico, ou não existirá mais”. O místico é aquele que ouve Deus, fala com Deus, contempla Deus. Experimenta-O. E como fazer isso hoje? Este é um outro tema. Numa outra oportunidade.
O dom do Temor de Deus será importante justamente para a nossa relação amorosa e filial com o Pai. Demos mais um passo: em Pr 9,10 diz: “O princípio da sabedoria é o Temor de Deus”. Todo aquele que teme ao Senhor, vive sabiamente. E nós precisamos ser sábios, que vai muito além de intelectual.
 Em Pr 15,33 diz: “O temor do Senhor é uma escola de sabedoria”. No livro de Jó 28,28 diz: ‘a sabedoria consiste em temer ao Senhor’; Pr 10,27 diz “O Temor do Senhor prolonga os dias”. Depois no cap. 14, 26-27 diz: “No Temor do Senhor está a segura confiança, esperança para os filhos. O temor do Senhor é a fonte de vida que afasta os laços da morte”. No Eclo 6,16 fala: “Amigo fiel é bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontra-lo”.

TEMOR DO SENHOR NA IGREJA PRIMITIVA
Temor do Senhor não como obrigação de viver a Lei.
Temor do Senhor para purificar da carne e do espírito: viver a santidade. A Igreja primitiva vivia muito bem isso: uma nova maneira de viver o querigma, não mais andando com os gentios cf. 1Pe 1,14. E cf. Ef 4,17. A nova maneira de viver testemunhando a ressurreição é a santidade no temor do Senhor. Viver no temor do Senhor será a única maneira de não sair do seu caminho, da santidade: tema de São Paulo. 1Pe 1, 15-17. A vontade de Deus é a santificação para a qual Ele nos chamou, 1Ts 4,3.7. Barnabé na sua Epístola 11.11 diz: “Descemos até a água repletos de pecados e sujeiras e subamos trazendo no coração o fruto do Temor e tendo no espírito a esperança em Jesus”.
Temor do Senhor me leva ao compromisso com o outro, com Deus, com o mundo, ou seja, com a minha comunidade.

sábado, 27 de julho de 2013

ACOMPANHAMENTO PASTORAL NA PARÓQUIA

Como desenvolver um bom acompanhamento pastoral na Paróquia.[1]


No acompanhamento pastoral é preciso estar atento às grandes questões da vida como sofrimento, causado pela ação do mal. Não tem como falar de ser humano sem falar muitas vezes de sofrimento. João Paulo II afirmou que: “o homem sofre de diversas maneiras”. (SD 5)[2] Em muitos casos, o sofrimento começou com uma crise na vida da pessoa ou da família ou, ainda, de uma parente ou amigo próximo. Um membro de uma família, por exemplo, que está passando por uma situação de crise num grau mais profundo, pode desestruturar todos da casa.
O padre, como pastor e enviado numa Paróquia, não pode se esquivar da escuta do sofrimento das pessoas, mas, ao contrário, ele deve estar atento às necessidades de seu rebanho, inclusive na hora em que é solicitada a sua presença e de um acompanhamento pessoal. É no ministério Eucarístico que o sacerdote realiza sua função principal (PO 13)[3], mas o acompanhamento personalizado, direcionado, é um sacrifício santo e agradável a Deus, pois ele estará salvando almas da confusão e perdição. Quantas pessoas necessitam de uma palavra que as indique, que as ajude na saída de uma crise! Fazer um acompanhamento pastoral é tão caro quanto guardar um baú cheio de tesouro, pois quando uma pessoa procura um padre, um psicólogo, é porque aquilo de que ela quer tratar lhe é caro.
Uma pessoa não pede para estar em crise. Mas por outro lado, não tem jeito, a crise, o sofrimento, faz parte da vida do ser humano. “As crises acidentais podem ocorrer em qualquer idade da vida, por exemplo, perda de status e respeito, acidente, intervenção cirúrgica, doença mental ou alcoolismo, uma deficiência física, uma gravidez não desejada, separação matrimonial, etc.” (CLINEBELL, 1998, p. 182)[4].
A escuta por parte do padre é fundamental. É preciso se colocar numa atitude de quem está interessado na questão. Atenção total, nada pode atrapalhar a conversa, muito menos o padre ficar distraído lendo algo ou mexendo no computador. A pessoa que está sendo acompanhada pelo padre, “lhe confia pensamentos, intenções, sentimentos... que a ninguém mais comunica. E espera ajuda” (MIRANDA, 2010, p. 85)[5]. Se o sofrimento é um “lugar teológico”, mais do que sair do sofrimento, a pessoa, consciente ou não, está buscando a Deus, seu criador. Buscar o sagrado é buscar um sentido para a vida.
O padre deve o máximo estar atento à realidade do mundo. Há cinquenta anos atrás, o Concílio Vaticano II já alertava sobre a realidade. “É necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático” (GS 4)[6]. Com isso, é percebível que as pessoas hoje demonstram mais suas crises, e em alguns casos chegam até a se acomodarem com elas. De fato, existem crises prolongadas e crises que são temporárias. As fáceis e as difíceis de resolverem, bem como as etapas da crise em que a pessoa se encontra. O padre será o apoio, o instrumento para ajudar a pessoa a sair do estado em que se encontra.  
São várias as pessoas que estão com a vida emocional abalada e que, muitas vezes, não percebem o que está causando crise, ou aliás, não sabem o porquê daquela crise. O padre ou o psicólogo deve ser uma pessoa preparada e com suas questões resolvidas para poder ajudar os outros. O padre deve ser o homem do conhecimento, da prática e da espiritualidade. Muitos são aqueles que procuram o padre para aconselhamento sobre a separação do casamento ou porque alguém na família está doente.


O padre, numa atividade pastoral em uma determinada paróquia, deve ter presente que “o confronto do ser humano com o sofrimento é inevitável, de que o homem é um ser que, cedo ou tarde, deve encarar a morte e que, antes de fazê-lo, deve sofrer” (FRANKL, 2011, p. 93)[7]. É de suma importância que o servo de Deus se coloque a disposição para acompanhar as pessoas, as famílias, principalmente aquelas que têm um membro com doença terminal. A presença do padre em situações como estas, pode favorecer ao doente e à família uma consciência que sofrimento possibilita um encontro com Deus. Em alguns casos se verifica que não precisa de muitas palavras, mas da presença silenciosa e orante.
Hoje, mais do nunca, o padre como homem de Deus precisa se capacitar intelectualmente para dar respostas, não só às questões espirituais – teologia – mas, às questões humanas – antropológico-psicológico –. “A formação intelectual dos candidatos ao sacerdócio encontra a sua específica justificação na própria natureza do ministério ordenado e manifesta a sua urgência atual de fronte ao desafio da ‘nova evangelização’” (PDV 51)[8]. Outro desafio para os padres de hoje, não é só a formação, mas ir ao encontro das pessoas e/ou estar aberto para que as pessoas os procurem. O aconselhamento, o direcionamento, ou a pastoral do acompanhamento espiritual devem ser realizados a semelhança de Cristo Bom Pastor, que estava sempre disposto a cumprir a missão que o Pai lhe confiou. “Jesus demonstra muito bem como nos encontros filiais o cumprimento da vontade do Pai desempenha um papel essencial: o meu alimento é fazer a vontade daquele que mim enviou” (Jo 4,34 CNBB)[9], (GALOT, 1998, p.117)[10].
No caso de paciente em estado terminal, se o padre está preparado, pode favorecer que tanto o doente como a família passe por esse momento tão doloroso com mais facilidade e sem muitas feridas. Um doente terminal, quando recebe o diagnóstico, entra em crise instantaneamente. Chega a ter casos de muitas famílias não revelarem o problema ao enfermo, justamente para que o problema não se agrave mais, haja vista a sua fragilidade emocional. É possível que o paciente enfrente alguns estágios antes de morrer. Elisabeth Kubler-Ross (2000)[11] fala de cinco estágios. O primeiro é a negação do diagnóstico. O segundo estágio se caracteriza pelo sentimento de raiva ou revolta, ele se revolta contra todos que vivem a sua volta, chegando a se questionar o porquê de acontecer isso com ele. O terceiro estágio se dá quando o paciente começa a ter consciência do seu estado e tenta negociar; é o que Kubler-Ross denominava de barganha. No quarto momento se apresenta a depressão, em que se perde o sentido de viver e se começa a desejar profundamente a morte. Aqui entra o desafio para o aconselhador: como fazer com que neste momento da vida, o paciente tenha um olhar diferente para a sua situação? Como levá-lo a descobrir o sentido do sofrimento, pois “o sentido do sofrimento – do inevitável e inescapável sofrimento em si, obviamente – constitui o mais profundo sentido possível” (FRANKL, 2011, p. 97). O quinto momento é o estágio da aceitação, mas para isso devem estar superadas todas as fases anteriores.
A presença do padre ou do leigo deve ser uma presença e ao mesmo tempo um acompanhamento espiritual na vida tanto da família como do enfermo. É mister favorecer que eles tenham e sintam a presença de Deus. Pois mesmo nestas situações, “todo ser humano merece ser acompanhado e ajudado a encontrar a ‘direção’ de sua vida para o Criador” (MIRANDA, 2010, p. 135).
A morte precisa ser encarada com realismo, mesmo que o medo apareça e tome conta dos sentimentos da pessoa. Só morre aquilo que experimentou a vida. “O homem morre, como qualquer outra forma de vida, mas é o animal que sabe e pode prever a própria morte” (MAY, 2010, p. 237)[12]. Ora, o homem não foi feito para a morte, mas para a vida, e em Cristo, para a vida eterna. Neste sentido, a morte precisa ter um sentido teológico, como sentido último que é Deus mesmo. A fé é um dado importante para aqueles que estão no sofrimento, pois “Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16 CNBB). A fé em Deus pode ser um suporte para superar o sofrimento. No aconselhamento pastoral ou na direção espiritual, o padre ou o leigo, deve levar o acompanhando a ter uma experiência de Deus. No dizer de Miranda (2010, p. 178) “a experiência com Deus estrutura o homem”. Esta é também a nossa fé.
Não é fácil acompanhar um enfermo em estado terminal. Logo, neste caso, o amor é a base para ir até o fim. Não esquecendo que Deus pode realizar também um milagre, o acompanhamento deve ser realizado em profunda sinceridade e caridade. O sofrimento de Cristo não foi pura e simplesmente um sofrimento humano na carne, mas na carne manifestou amor pleno pelo homem para que o homem pudesse plenamente ser salvo do pecado e da morte (cf. 2Cor 8,9). O amor é a porta da salvação. É o amor da família, o amor dos amigos, o amor do pastor daquela ovelha ferida que fará com que o enfermo terminal encontre a si mesmo e se encontre com o seu criador. “As palavras da oração de Cristo no Getsêmani provam a verdade do amor mediante a verdade do sofrimento” (SD 18).
REFERÊNCIAS


[1] Tentarei fazer um trabalho indicando como o padre pode atuar no Acompanhamento Pastoral numa determinada Paróquia.
[2] JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Salvifici Doloris, Sobre o sentido cristão do sofrimento humano. São Paulo: Paulinas, 1998.
[3] CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, Sobre o ministério e a vida dos sacerdotes. São Paulo: Paulus, 1997.
[4] CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. São Paulo/São Leopoldo: Paulus/Sinodal, 1998.
[5] MIRANDA, Tomás Rodríguez, sj. A direção espiritual: pastoral do acompanhamento espiritual. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2010.
[6] CONC. ECUM. VAT. II, Constituição Pastoral, Gaudium et spes, Sobre a Igreja no mundo atual. 12. ed. São Paulo: Paulinas, 2002.
[7] FRANKL, Viktor E. A vontade de sentido: Fundamentações e aplicações da logoterapia. São Paulo: Paulus, 2011.
[8] JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis. São Paulo: Paulinas, 2009.
[9] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Bíblia Sagrada. Brasília: CNBB, [s.d.].
[10] GALOT, Jean. Dio Padre, chi sei? Breve catechesi su Dio. Milano: San Paolo, 1998.
[11] KÜBLER-ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins fontes, 2000.
[12] MAY, Rolo. O homem à procura de si mesmo. 35. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

Serrinha deveria ser Limpa e Perfumada como uma bela senhora.

Dom Ottorino sempre faz suas homilias, na Solenidade de Senhora Sant'Ana, com uma dimensão social. Ele, todo ano faz e, creio que agora mais ainda o fará depois que o papa Francisco pediu para todos os Católicos se envolverem na política. Se os nossos agentes políticos fossem mais comprometidos com o POVO, com certeza não haveria tantas misérias. Digo isso em relação à região Sisaleira da Diocese de Serrinha, todas as cidade da Diocese. Este vídeo mostra um pouco como foi a fala de dom Ottorino ontem 26.

HOMILIA NA SOLENIDADE DE SENHORA SANT’ANA – 2013

HOMILIA NA SOLENIDADE DE SENHORA SANT’ANA – 2013



Meus irmãos, minhas irmãs, nesta festa solene de nossa excelsa Padroeira, impelido pela minha responsabilidade de Pastor da Igreja de Serrinha, diante de situações e atitudes negativas que o povo padece, elevo a minha voz, indicando a solução no exercício da responsabilidade, a vários níveis, chegando, em seguida, a destacar uns fatos concretos que corroem a dignidade humana, tornando impossível viver uma vida boa, de qualidade.

Introdução: Quando si fala de responsabilidade, é necessário recorrer ao termo liberdade, porque esta é a palavra que mais pede a responsabilidade, aliás “liberdade significa responsabilidade, É por isso que muita gente tem medo dela” (George B. Shaw, escritor irlandês). A liberdade é o dinamismo fundamental do ser e do agir humano, porque quando se nega o livre arbítrio, desaparece a possibilidade de falar da responsabilidade: é o homem livre que tem capacidade de ter consciência, de refletir e ponderar suas ideias, suas opções, de reconhecer seus erros e corrigir-se para o bem. Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, estamos falando de uma responsabilidade moral, de uma virtude, não só do ponto de vista espiritual, mas, antes, do ponto de vista cívico, humano, como cidadãos do mundo. De fato, a responsabilidade nos leva à abertura aos outros, nos leva a recusar o mal, mesmo quando é sedutor, e escolher o bem, mesmo quando custa, leva à honestidade, à justiça, à vantagem social e não à particular.

Assim a responsabilidade moral, que cada qual tem em relação a si mesmo, alarga-se necessariamente aos outros, de forma que toda boa ação melhora a convivência humana (Cfr. L. Monari: A responsabilidade é uma virtude cívica).

Quem não tem a liberdade de escolher e de agir, torna-se não responsável, no sentido que não pode exercer sua responsabilidade por causas externas, como, por exemplo,  nos regimes totalitários: faltando a liberdade, obrigados a agir conforme a decisão alheia, não se tem a responsabilidade moral.

Mas existem formas de irresponsabilidade imputáveis às pessoas, quando elas, por esperteza, por interesses, por ideologias agem contra o bem comum. E parece que a nossa sociedade esteja avançando neste sentido, sem perceber que está destruindo a vocação humana.
Poderíamos citar a irresponsabilidade de quem se apela à liberdade de pensamento e de expressão, não em vista do bem comum, mas para fazer a cabeça das pessoas, para difundir a mentira e os vícios; a irresponsabilidade de quem usa os meios de comunicação, instrumentos tão preciosos para a sociedade, para propagar interesses ocultos; a irresponsabilidade de quem usa a campanha eleitoral não para oferecer respostas concretas aos problemas sociais, mas para se promover, enganando com promessas que nunca serão cumpridas ( Cfr. L. Monari).


1.      Dizendo isso, já estamos nos adentrando nos problemas concretos de nossa sociedade que exigem uma resposta, a partir da responsabilidade de quem detém alguma autoridade.

A primeira provocação é dirigida à Igreja como um todo: do Bispo até o último dos fiéis.
O Papa Bento XVI, ao proclamar o Ano da Fé, quis relançar o programa da Nova Evangelização, desenhado pelo Papa João Paulo II, entendendo a N.E. como prioridade da Igreja do terceiro milênio.

Parece que nas Paróquias foi pouco recebida esta preocupação do Papa. Na Visita Pastoral não faltaram apelos e orientações e, agora, no Sínodo Diocesano, estaremos chamando atenção a este respeito, perguntando: como conquistar os homens de hoje ao Evangelho? Como reconduzir os jovens a Jesus Cristo? Que tipo de catequese faremos para renovar a fé cristã? Como recuperar a identidade da família cristã? Estas e outras perguntas deverão encontrar respostas concretas, sérias, novas para o revigoramento da fé.

Ninguém dentro da Igreja poderá dormir sonos tranquilos, se não se dedicar com paixão a construir a N.E. Como poderíamos ficar tranquilos, quando sabemos que tantas pessoas, talvez a maioria, não têm Deus no horizonte da vida?
O Papa Bento XVI oferecia uma resposta, apontando duas coisas:
- voltar ao essencial da fé e da vida cristã;
- viver nós mesmos, por primeiros, uma profunda experiência de Deus.
Concluo esta primeira provocação dizendo que a responsabilidade do cristão no mundo é uma verdade que provém da visão cristã da vida, muito bem ilustrada pela Doutrina Social da Igreja. Trata-se da nossa resposta à solidariedade de Deus para conosco, evidenciada principalmente na encarnação de Jesus.
De fato, nós cristãos sabemos que Deus nos quis cidadãos do mundo e que nos colocou, por um tempo, na história do mundo, para darmos conta dela com responsabilidade, conscientes de que a fé não serve para melhorar a economia ou resolver problemas sócio-políticos, mas ela serve para melhorar o homem no seu interior, para que este possa melhorar o mundo com sua vivência e seu testemunho.
Interessante, a este propósito, a palavra do Papa Francisco durante a visita a comunidade de Varginha: “Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos” e ainda: “tudo aquilo que se compartilha, se multiplica!”.

2.1  A segunda provocação se dirige ao mundo político e social, que tem a responsabilidade de construir uma cidade em que cada pessoa possa viver bem, com dignidade.
Os protestos nas ruas dos últimos meses dizem que o povo brasileiro não está dormindo. Muito pelo contrário. O povo, cansado de sofrer, de suportar injustiças por parte de ‘sem vergonha’ que foram eleitos para servir o povo e a Nação e que não se importam com isso, mas só com seus benefícios, invadiu as ruas clamando pela justiça e a honestidade. O quadro da situação é fosco demais. Exigem-se mudanças e mudanças para valer.
Deste quadro fosco procuro trazer às claras algumas situações gravíssimas que mostram a falta de responsabilidade por parte de quem governa ou de quem deve legislar.
Infelizmente, devo voltar  de novo ao problema do aborto, que já abordei na homilia do ano passado, porque o Senado aprovou recentemente o Projeto de Lei da Câmara 3/2013 com a intenção de legalizar o aborto provocado. Usaram a estratégia de querer oferecer assistência integral de saúde às vítimas da violência sexual. Tudo bem! Mas passaram também itens que favorecem a legalização proposital do aborto. Foi um procedimento dissimulado e indigno, feito de astúcias e, portanto, perverso.
A aprovação, após rapidíssima tramitação, aconteceu sem quaisquer debates.
Eu pergunto: os Deputados e os Senadores não sabiam o que estavam votando? Estavam dopados, por acaso? Eles não entendem que gravidez não é patologia, que uma vida gerada não é doença a ser curada ou eliminada?
Eles só entendem mesmo as cifras do seu gordo salário, entre os mais altos do mundo!
Nós católicos, juntos com todas as pessoas de boa vontade que estão a favor da vida, não calaremos. O nosso grito sempre será: o aborto é um crime, não um direito humano.
Agora o projeto está nas mãos da Presidente da República Federal. A CNBB já se manifestou, pedindo o veto a tal projeto, pelo menos dos itens que abririam a possibilidade legal de provocar o aborto.
Queremos ver se a Senhora Presidente respeita a Constituição federal, que tem como fundamento a dignidade da pessoa humana (artigo1º) e que garante a inviolabilidade do direito à vida (artigo5º).
Queremos ver se a Senhora Presidente é pessoa de palavra, cumprindo o compromisso com o povo brasileiro, durante as eleições de 2010, de que não legalizaria o aborto no país, ou se se deixa levar pelo partido abortista a qual pertence.


2.2  Outro  aspecto   que   merece  a  nossa  atenção é a   calamitosa   situação  da  saúde pública em todo o país.
Ainda ressoa em meus ouvidos o grito desconsolado de inúmeras pessoas desamparadas pelo sistema público da saúde, que não recebem internação nos hospitais superlotados, não recebem curas adequadas porque de alto custo, obrigadas, portanto, a ficar deitadas em suas camas, com suas dores, sem cura e sem esperança. Esta é a situação da nossa Diocese que encontrei na Visita Pastoral.
E que dizer da notícia que recebi, segundo a qual públicos oficiais chamados a avaliar a situação de saúde das pessoas para aprovar o benefício da aposentadoria ou da invalidez, seriam pagos para negar tal benefício?
Não quero acreditar, mas se for verdade, tamanha iniquidade deverá se encontrar com a justiça divina.
O sofrimento das pessoas fere o meu coração e gera em mim uma revolta. Para oferecer uma resposta a este problema, tentei percorrer caminhos para trazer em nossa cidade um Hospital de qualidade, com serviços especializados que aqui não existem. Infelizmente, não sei se ainda tem esta possibilidade, porque si passou um tempo longo, mais de um ano e meio e não tive respostas: problemas burocráticos? Incompetência ou má vontade de agir? Interesses políticos ou outros?
Não sei, mas eu fiquei triste e desanimado. Ainda parece existir um mínimo de esperança pela solicitação que o Sr. Prefeito encaminhou ao governo do Estado, para liberar a documentação necessária.
Acredito que seja tarde demais, mas a esperança é a última a morrer.
Quero lembrar aos governantes, aos médicos, aos bem abastecidos que procuram hospitais de renome fora da cidade, que todos nós, ninguém excluído, somos candidatos ao sofrimento: não sabemos quando, se agora ou amanhã ou nos últimos anos devida, mas o sofrimento chegará até nós!
Enquanto estamos com saúde, a tendência é non pensar nisso e também esquecer-se do sofrimento alheio. Sendo que amanhã nós poderíamos precisar, e muito, procuremos dar a necessária atenção a todos os doentes, procuremos oferecer todo tipo de assistência, de prevenção às doenças físicas e psicológicas.
Aos que têm o poder eu peço de assumir, em seus programas de governo, a saúde como prioridade absoluta: a voz do povo clama e a voz de Jesus manda-nos fazer a mesma coisa que fez o Bom Samaritano.
Eu, em nome da Diocese, assumo hoje o compromisso de preparar um ambiente para atendimento às pessoas idosas, mostrando assim que a Igreja, desde sua origem, preocupa-se com os problemas sociais e as necessidades dos homens.
A pastoral familiar, com outros movimentos afins, estará na vanguarda deste projeto.

2.3  Enfim, a terceira provocação é um olhar sobre a cidade de Serrinha, que julgo atrasadas de algumas décadas quanto à infraestrutura, à organização, à civilização, que exige mútuo respeito, consideração e urbanidade, que significa respeito à cidade, às coisas públicas e valorização de tudo o que é de todos.
Sinais de crescimento têm, sem dúvida alguma, mas se não forem acompanhados pelas atitudes acima, a imagem negativa de quem chega à cidade continuará senso predominante, mesmo com a implantação do shopping.
Luxo e lixo não combinam; avanços e atrasos se contrapõem; bagunça e desordem não geram progresso.
Fui tomado pela curiosidade e andei em todas as ruas da cidade, entre a linha do trem e a BR116: não encontrei uma rua sequer, a não ser alguns trechos, sem lixo ou buracos, ou entulho, ou materiais de construção, ou com calçada e solo público ocupados por particulares, com grave incómodo para pedestres e auto veículos.
É esta, por acaso, a urbanidade, isto é uma cidade bela, limpa, organizada?
Gostaria de ver a cidade de Serrinha, que tem a bela idade de 137 anos de emancipação, igual àquelas senhoras de idade avançada, mas bem arrumadas e cheirosas.
Pelo contrário, a senhora Serrinha se apresenta desajeitada, malcheirosa, despenteada, com traços  de antiga beleza mal cuidados. Quem pode gostar dela?
Eu quero te ver bonita, Serrinha, minha pátria de adoção! Mas todos os Serrinhenses devem colaborar para o restauro, para a reconstrução, para o embelezamento da cidade.

Conclusão: Irmãos e irmãs, só me resta agora o apelo à Senhora Sant’Ana: não peço, Santa Padroeira, o milagre da conversão das pessoas que estão longe da Igreja, que non vivem o amor, que até não conhecem ou não querem se encontrar com Jesus; eu peço à Senhora de ficar perto dos seus fiéis e devotos, de ajudá-los a viver seus compromissos, exercendo a responsabilidade que temos em força do batismo.
Se cada um de nós for responsável de sua vida, de sua vocação e da vida dos irmãos, nós estaremos construindo a cidade de Deus em nossa cidade: um novo tempo irá amanhecer.


Assim seja.