MISSA DOS SANTOS ÓLEOS – 15.04.14
1. A celebração desta Missa dos Santos
Óleos nos ajuda a compreender a dimensão sacerdotal do povo de Deus: o
sacerdócio comum dos fiéis em força do Batismo e o sacerdócio dos ministros
ordenados; este não exclui o outro, mas o enriquece.
A vocação e a missão dos leigos são tão importantes
para a vitalidade das nossas Comunidades, seja pelo esforço de comunicar a fé
às crianças e jovens, seja pela animação das pastorais e pelo anúncio do
Evangelho, seja pela presença nas estruturas e dinamismos da sociedade, com
especial atenção às instituições de caridade.
Aos sacerdotes, ministros ordenados,
cabem estimular e apoiar, em força da graça própria da ordenação, esta riqueza
e pluralidade apostólica dos fiéis. E estes, os fiéis, precisam necessariamente
da presença dos ministros ordenados, porque, pelo sacramento da Ordem, encarnam
a pessoa e a missão de Jesus Cristo.
O caráter indispensável do ministério
sacerdotal convida-nos a um compromisso sério e decidido na pastoral das vocações
sacerdotais, porque é de suma importância para a vida da Igreja e do mundo.
Devo, neste momento, lamentar a escassez
das vocações sacerdotais em nossa Diocese: não porque Deus não chama, mas
porque nós não rezamos insistentemente ao Senhor da messe, porque não
trabalhamos com entusiasmo neste campo tão delicado, porque não testemunhamos a
alegria de ser sacerdotes, porque não dirigimos o convite aos nossos jovens e
porque, estes também, se fazem de surdos aos apelos de Deus e gostam mais das
propostas do mundo.
Haja, em nossa Diocese, uma corrente de
orações, como um cerco de Jericó ao redor dos jovens, para derrubar os muros da
superficialidade, dos prazeres humanos, da liberdade individual, do egoísmo e
do medo: quase por encanto, veremos surgir novas vocações, generosas e
corajosas!
2. Mas, nesta celebração, nós podemos
entender, pela consagração dos santos óleos, a abundância sacramental na Igreja
pela ação dos ministros ordenados; esta
Missa, dita da unidade, porque reúne os presbíteros ao redor do Bispo, mostra a
riqueza sacramental que é, principalmente, dom de Deus e, ao mesmo tempo,
compromisso pastoral nosso, a partir da comunhão de amor que brota do mistério
trinitário.
O Papa João Paulo II, proximamente
santo, dizia: “A identidade sacerdotal, como toda e qualquer identidade cristã,
encontra na SS. Trindade a sua própria fonte” (PDV,12).
Esta provocação que vem do Santo Papa,
leva-me, mais uma vez, a tocar no tema da comunhão presbiteral e na caridade
fraterna, tão almejada pelo Senhor Jesus na longa oração sacerdotal, antes da
Paixão.
Todos os anos, na celebração da Missa
crismal, ofereci estímulos e pedi um compromisso sério na construção desta
comunhão, mas ainda estamos longe: temos que admitir esta falha.
Não basta denunciar a falta de comunhão
e caridade fraterna; precisa agir, começar com gestos concretos de amor, com
humildade e perseverança, senão é pura atitude fingida, é álibi ao nosso agir.
Sinto-me na mesma situação de Jesus
diante de Jerusalém: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas
os que te foram enviados, quantas vezes quis reunir teus filhos como a galinha
recolhe seus pintainhos debaixo das asas, mas não quisestes!” (Lc 13,34).
O meu coração de pai e irmão está ferido
e machucado, sofre do mesmo jeito, porque vejo os entrelaços que impedem o
crescimento, percebo as barreiras que freiam minha ação, mas não renuncio a
indicar os comportamentos que não favorecem e destroem a comunhão: quem não
assume este compromisso vivendo às margens da comunidade sacerdotal, quem
semeia cizânia, espalhando suspeitas e até calúnias, este está aliado com o
diabo, que é a raiz de todos os males; quem não perdoa, quem ignora o seu
irmão, quem tem vida ambígua é indigno do ministério sacerdotal.
Jesus sabia quanto seria difícil viver a
comunhão e rezava ao Pai “para que sejam um como nós”, mas ao mesmo tempo
pedia-lhe de guardá-los do Maligno “para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo creia”; somente a vida
íntima com a SS. Trindade pode garantir a comunhão.
3. A celebração desta noite é marcada
por uma forte espiritualidade sacerdotal, porque foi na Primeira Páscoa, a
Páscoa definitiva, que Jesus Cristo exerceu o seu múnus sacerdotal,
substituindo-se ao cordeiro pascal: Ele se ofereceu como verdadeiro Cordeiro;
foi uma Páscoa eterna, no sentido que nunca irá se esgotar, porque naquela
Primeira do tempo definitivo, Jesus incumbiu aos 12 Apóstolos de dar
continuidade para sempre: “fazei isto em memória de mim”.
É a partir da Eucaristia que poderá
desabrochar e crescer a nossa espiritualidade sacerdotal. Indico alguns
aspectos desta espiritualidade.
Antes de mais nada, o Sacerdote age na
Pessoa de Jesus Cristo que está presente nele. Isso exige, por parte do
Sacerdote, uma semelhança sempre mais profunda com Jesus que está nele, a fim
de ser, como Jesus: caminho, verdade e vida. Podemos dizer isso com serenidade?
Em segundo lugar, nós sabemos que a
santidade é a qualidade específica de Jesus: ela é bondade, é amor, é beleza
interior, é pura luz. Estamos, pelo menos, tentando o caminho da santidade,
revestindo-nos destas qualidades? Como Sacerdotes, temos a consciência de ser
ministros de santificação, pontes de encontro entre Deus e os homens?
O Papa Francisco, comentando ontem aos
Seminaristas maiores a Palavra de Ezequiel “Ai dos pastores que apascentam a si
mesmos”, dizia: “Vós não vos estais preparando para exercer uma profissão, para
vos tornardes funcionários de uma empresa ou de um organismo burocrático.
Cuidado, estais atentos a não cair nisso! Trata-se de se tornarem Pastores à
imagem do Bom Pastor. Quem não se sentir disposto a seguir este caminho, com
esta atitude e orientação, tenha coragem de procurar outra estrada”....;
Lendo nestes dias um texto de Madre
Trinidad de la Santa Iglésia, sobre a mesma passagem de Ezequiel, ela
comentava: “Há sacerdotes sem viverem em comunhão com Deus, sem o conhecerem,
sem saberem bem os critérios divinos e, portanto, sem assimilarem a vida da
Igreja, usurpando aos leigos a formosa responsabilidade que Deus lhes confiou
no seio da Igreja”: palavras gravíssimas! A espiritualidade sacerdotal é
exatamente o contrário.
Outro elemento da espiritualidade
sacerdotal é: ser apaixonados, enamorados por Deus. Estamos vivendo num tempo
difícil, que obscurece o que é sagrado; não podemos perder o enamoramento com
Deus, pelo contrário, temos que regenerá-lo interiormente a cada dia, se não
quisermos que outros amores tomem conta de nós. A vida do Padre, sem a paixão
por Deus, é pesada demais e poderia se tornar insuportável. Mas, vejam bem, a
solução não está no abandono, mas no retorno à fonte da alegria, ao amor de
Deus, que basta ao coração, como lembra Santa Tereza.
Este é o grande mistério que nos
envolve, que nos preenche e que tem como objetivo a renovação do mundo,
conforme o projeto de Deus.
Poderia dizer muitas coisas ainda sobre
a nossa espiritualidade, mas paro por aqui. Confesso que a preparação desta
homilia me causou muito sofrimento, com sentimentos de frustração, de derrota,
de culpa. Onde está a comunhão do meu presbitério? Onde está o mal que impede a
comunhão? Levantei os olhos ao Crucificado, refleti sobre o lema do meu brasão
“A cruz de Cristo em nossos corações”; entendi: é pela paixão e morte que se
chega à Ressurreição. Retomo, portanto, com humildade o meu caminho, consciente
das minhas limitações e fraquezas, mas firme certeza que o Senhor está ao meu
lado, está ao vosso lado; está em vosso meio, meus irmãos e minhas irmãs! Rezai
por nós.
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